Melhor parte desse cast foi porque eu nunca tinha parado pra pensar e analisar a escassez de personagens femininos que estão fora do clichê. Eu mesmo já carrego pouco a expectativa quando eu vejo que uma mulher é a protagonista e que não vão acabar levando ela e a narrativa pra algo princesa, ou fútil.
Agora vou ficar analisando tudo que já li/assisti hahahahah
Vamos lá, vou comentar mas também colocar no balaio o episódio anterior. Eu tenho um problema de como o Pablo coloca a jornada no herói nessas discussões, apesar de concordar em partes com diversas opiniões dele sobre a mesma. Basicamente é sempre levado a entender como “Uma forma de bolo onde toda a história é exatamente a mesma, só mudando o contexto”. Pois não é.
Mas antes de discorrer sobre, vou colocar do que gosto quando o Pablo defende a forma de pensar dele. Jornada do Herói não é a única estrutura a ser utilizada, tanto não é como diversos autores, baseados e inspirados em outras histórias constroem a narrativa de outras maneiras. Como por exemplo, o supracitado Tolkien, que nos 45 do segundo tempo transforma SAM, um coadjuvante, como um dos principais responsáveis pela destruição do Anel. De como Frodo falha na tentação e o antagonista até então, também vítima do anel, Gollum, por força do acaso acaba se desequilibrando e caindo junto com o objeto no fogo de Mordor. Ou então, The Mist, ou O Nevoeiro, que termina com o pai matando o filho e todos os sobreviventes em nome de uma morte em paz no meio do inferno alienígena que se instaura no mundo. E por aí vai. Não são poucos os filmes que usam outras estruturas, ou criam corruptelas da própria jornada para contar suas histórias e eu gosto de várias delas.
Então não tenho problemas com falar que a Jornada não é a única forma de contar uma boa história, capicce?
Acho bem leviano falar que a Jornada é a grande causadora da mesma e genérica história, quando na verdade é falha do autor em criar uma proposta interessante e guiar o espectador para o inesperado. Inclusive me incomodou muito o fato de colocar a Jornada como algo especificamente masculino. Acho que quando relegamos papéis, seja para homens e mulheres, geramos erros. Então não vejo qualquer problema, uma mulher ser o papel central da estrutura. EM nada ela atribui ao gênero masculino uma forma de herói melhor. Nem sequer precisam ser desafios físicos ou aventurescos. Então parece que muitas vezes se confunde as nomeclaturas do passo-a-passo como literal e as vezes como figurativo, quando convém é figurativo, quando não é literal.
Não precisa existir Dragão, espada, mago e sequer mestre físico na jornada. Vocês sabem disso certamente, mas muitas vezes foi colocado como se precisasse realmente repetir os mesmos elementos de muitas histórias para ser uma jornada efetiva. Para começo de conversa Jornada do Herói como a conhecemos é século 20, só um amalgama estrutural de outras histórias que tem muito mais a ver com ritmo e elementos narrativos que realmente essas pedras fundamentais ou a famosa expressão “forma de bolo”. Inclusive, o herói sombrio também existe na jornada e ele pode falhar no meio da aventura, como Anakin na trilogia nova-mas-não-tão-nova-assim.
Não é apenas Star Wars, Matrix, Harry Potter e derivados da cultura popular que se aproveitam da jornada, esses epicentros masculinos. Sempre enxerguei A Jornada como uma forma de entendermos e aplicarmos uma linguagem subjetiva nas histórias de maneira a melhor agradar o público.
Inclusive, irei reescutar pois tive a impressão que o mito de Psique pode também inclusive se enquadrar na jornada em alguns aspectos.
Mas aí, Andrei, a gente está falando de duas coisas completamente diferentes. Você fala do autor e a estrutura narrativa que ele escolhe e, de fato, a Jornada do Herói não se impõe sobre ele ao escrever. Mas eu estou falando – e sempre falei, e talvez tenha sido mais enfático no outro episódio (só não repeti a ênfase pra não ficar repetitivo) – da forma como a Jornada se impõe sobre a vida das pessoas e como elas constróem suas auto-narrativas, suas vidas mesmo, baseadas quase que exclusivamente nesse monomito, tanto homens quanto mulheres. E isso é complicado, pelos motivos listados no episódio anterior.
E outra coisa que eu frisei também: toda história segue uma curva narrativa com uma exposição, um crescendo, o clímax e a conclusão. Isso é verdade pra TODAS as histórias, o que muda é a forma como essas partes são exploradas e, às vezes, até a ordem delas. Tanto a Jornada do Herói quanto a Jornada da Alma que eu propus seguem essa curva natural de narrativas. Então, é possível – como algumas pessoas comentaram no post do ep. anterior – perceber as duas estruturas em uma mesma história! Até mesmo porque elas não são mutuamente excludentes. O que muda, de fato, é o foco narrativo: enquanto a Jornada da Alma foca-se no encontro subjetivo da identidade e personalidade do protagonista, diferenciando-se da comunidade da qual surge e através da qual faz a jornada, culminando na redenção pessoal (independente do coletivo), a Jornada do Herói é focada no crescimento espiritual e consequente redenção coletiva através do Herói que era diferente do coletivo e percorreu uma jornada individual para tal.
O que vamos perceber mais, na verdade, depende não só da ênfase dada pelo autor, como também daquilo que nós leitores consideramos mais! Infelizmente – e principalmente nas narrativas do Cinema – os autores abusam TANTO da jornada do herói que não sobra espaço pra mais nada… =/
Fabricio Erdmann
uma “heroina” que lembrei foi da Celaena da serie Trono de Vidro, pensando um pouco sobre a historia enquanto ouvia o cast comecei a pensa se a poderia ser estruturada na lenda de Eros e Psique.
Pablo já leu essa serie? se sim, oque achou?
Nunca li! Vai ter que entrar na lista infinita de livros a ler… =D
Isabella Giordano
não to achando nem o canal nem o programa nem nada no itunes 🙁
Nilda Alcarinquë
Olá Isabella.
Tente re-assinar o canal no iTunes. Use o link para isso que tem no alto da postagem.
Se mesmo assim não der certo, nos avise!
abraço
Thais Felicio de Novais
É normal q nao encontro mais o canal nem os podcasts on ITunes ?
Nilda Alcarinquë
Olá Thais.
Tente re-assinar o canal no iTunes. Use o link para isso que tem no alto da postagem.
Se mesmo assim não der certo, nos avise!
abraço
Henrique Tavares
Eu só queria dizer que não acho a JK Rowling essa rainha toda do feminismo, por mais incrível que a Hermione tenha sido escrita. Digo, hoje em dia ela tem dez mil vezes mais poder e liberdade criativa e nem por isso Cormoran Strike, Cursed Child (ao qual ela deveria ter lido antes de dar o aval dela) ou Animais Fantásticos deixaram de ter seus protagonistas homens brancos etc etc, ou mesmo apresentam diversidade étnica e sexual além da média atual (até um tanto abaixo, eu diria). Ela é toda desconstruidona e lacradora no twitter, mas na hora do vamovê, de criar um produto que potencialmente vai impactar uma geração, ela não parece fazer muito esforço pra fugir dos padrões, e padrões antigos.
Mas aí, Henrique, a gente precisa entender ainda que ela enfrenta um mercado editorial muito fechado que pede por mais histórias do protagonista. Em Animais Fantásticos, ela quis contar a história de outro personagem que serviu de base para um outor livreto que ela escrevera – e acontece que ele era masculino… Mas isso não impede que a presidente da MACUSA seja mulher negra e que o protagonista seja acompanhada por mulheres…
Inclusive, em A Criança Amaldiçoada, existe todo um novo relacionamento com mulheres. Há a presença de uma nova personagem, central para a trama. Além disso, Hermione Granger é revelada como a nova Ministra da Magia – além de, na peça produzida, ela ser interpretada por uma mulher negra – apesar de toda a resistência de muita gente… http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-36454875
Ela já criou um produto que de fato impactou toda uma geração e continua criando e ganhando dinheiros com isso. A fuga dos padrões acontecem aos poucos, pois se ela quiser ser publicada, ela ainda vai precisar da ajuda do mercado editorial que ainda é muito fechado e restrito… 😉
Henrique Tavares
Não acredito que ela seja tão refém assim, não creio que a restrição do mercado deve ter tanto efeito pra escritora que sozinha revitalizou a literatura infanto-juvenil. Ela é a escritora do planeta que mais tem banca pra poder bater o pé. Só imagino o que não deve ter de editora que se mataria pra poder publicar qualquer coisa escrita por ela, pelo poder de venda do nome dela.
O caso do Cormoran Strike pra mim é o mais evidente, porque ela usou pseudônimo, foi bem nas escondidas, queria se sentir livre, fez mais por vontade do que necessidade, e a personagem feminina de mais destaque é co-protagonista. A diversidade nas obras dela é sempre periférica, nunca atingem o protagonismo, o que acho uma pena pelas possibilidades de alcance que ela é a autora que mais tem.
Enfim, acho sim que ela é um tanto acomodada, e isso é ótimo para manter os padrões, enquanto o serviço de mudança vai ficando pra outras autoras e autores que trabalham mais do que falam pelas suas ideologias.
Ana Carolina D'Arrigo de Assis
Um minuto de atenção pra mais um homem que acha que os esforços feministas de uma mulher não foram suficientes, que podia ter sido melhor…
Foca no detalhe que ele acha que as pressões que a autora sofre e sofreu no mercado literário machista não são tão fortes assim. Ela podia ter feito mais e sido mais feminista!
Henrique Tavares
Meu ponto é apenas que eu acho que se tem uma mulher cujo nome tem poder de venda pra peitar de frente esse mercado machista é ela. O que tá errado nessa afirmação, independente de quem tá questionando isso?
Ana Carolina D'Arrigo de Assis
Ela tem peito, e peitou e muito o mercado. Quando ela era apenas mais uma escritora de um único hit, ela mostrou a todos de que era capaz com livro após livro. Ela comprou a briga com personagens femininas capazes de representar meninas no mundo todo de forma corajosa. E continua mostrando do que uma mulher é capaz através de cada projeto dela. Vc nunca vai saber o que é para uma mulher sentir orgulho de uma outra mulher ter chegado tão longe, ao menos que já tenha ouvido, como ela, todos os nãos e tenha todas as portas que ela teve fechada na sua cara por ser mulher. E sim, faz diferença quem faz essa afirmação. Porque, o que vc, do alto do seu privilégio de homem, acha que podia ser melhor, eu, como mulher, só tenho a agradecer!
Henrique Tavares
Eu não enxergava esse gênero como fator determinante porque conheço mulheres com a mesma opinião que eu. Uma amiga minha, que começou a escrever por causa da JK, é ainda mais cáustica sobre o que ela esperava dos trabalhos atuais dela. Tenho contato com um público gay de HP que ficou frustradíssimo em nível estratosférico com o desperdício que foi os meninos do Cursed Child não serem um casal depois de como a relação deles é desenvolvida. Rola um desapontamento e às vezes um desencantamento com alguns fãs sim, enquanto outros continuam adorando ela, acontece. Mas se tudo que eu disse vai ser filtrado como eu sendo um machista ingrato que não reconhece os esforços e contribuições passadas dela… bom, paciência, que daí não adianta forçar diálogo. Burro fui eu de inventar de ter críticas à Rainha.
Cara, vc não percebeu MESMO o problema do seu argumento? A mulher faz o que ela bem quiser! Se ela quiser ser feminista panfletária, ela pode. E se ela quiser escrever uma história sobre meninos e deixar o feminismo de lado, ela também pode! O que não pode é homem que não entende a dificuldade que é ser mulher em um mercado e mundo machista, que não entende o nível de sofrimento dela, dizer o que a mulher – qualquer mulher – pode ou deve fazer com relação ao feminismo, um movimento que nem é o nosso! O nosso lugar nessa luta não é criticar que ela poderia ou deveria ter feito mais – porque a gente não faz IDEIA do quanto ela já fez, e a gente é incapaz de fazer uma fração durante toda a nossa vida do que ela faz antes do café da manhã. O nosso lugar é simplesmente dar nosso espaço pra que mais mulheres possam falar e ser o que elas bem quiserem! Já tem muito homem cagando regra por aí sobre como as mulheres devem se comportar e até como devem parir seus filhos pra chegar mais um e dizer que qualquer mulher poderia ter sido mais feminista. E sim, criticar da forma como você fez, como disse a Ana, “do alto do seu privilégio de homem”, é se comportar como todos os outros homens que ela enfrentou e enfrenta que fecharam mais e mais portas. Ela não é rainha e nem a melhor escritora do mundo ou representante feminista na literatura. O problema do seu argumento não é a crítica à Joanne Rowling – e sim, ninguém é imune a críticas, nem as mulheres -, mas sim o fato de que você estava cagando regra de como uma feminista deveria se portar dentro do feminismo… menos, amigo… menos… antes de criticar como mulheres devem se portar como feministas, analise o seu comportamento de homem e como ele está atrapalhando ou não esse movimento…
Critique o livro, critique a obra, critique o mercado editorial. Fique à vontade para criticar quem você quiser! Mas na hora de falar sobre o feminismo – se você, homem, quer de fato apoiar o feminismo – deixe que as mulheres falem por si mesmas e mostre que você não é mais um desses homens caga-regra que existem por aí… ajude a agregar ao movimento, não a desconstruí-lo! =)
Laura Hofmann
“Conheço mulheres com a mesma opinião que eu” it´s the new “até tenho amigos gays/negros, não sou homofóbico/racista”!
Laura Hofmann
Ah, tá certo! Ela já era A JK Rowling no primeiro Harry Potter. Tá SERTYNHO!
Olááá,
demorei 2 meses mas cheguei aqui! Peço desculpas adiantadas pelo textão.
Eu acho que as críticas às jornadas foram um pouco duras. Eu conheci a jornada da heroína não tem muito tempo, e me identifiquei muito com ela, em um nível muito pessoal, acho que é uma forma muito bacana de diferenciar a jornada que um grande grupo de mulheres de fato passamos.
Sobre o teste de Bechdel: a Alice Bechdel não é uma pesquisadora, é uma cartunista americana, autora de Dykes to watch out for. Em 1985 ela publicou em DTWOF uma tirinha chamada “The Rule” que apresentava a regra, criada por uma amiga chamada Liz Wallace, a quem ela agradece na tirinha. http://alisonbechdel.blogspot.com.br/2005/08/rule.html
E ele não é um bom teste para medir representação feminina em *1* filme. Acho importante salientar que ele não diz se o filme é bom, se é feminista, se tem representatividade ou se essa representação é positiva.
Ele é um teste que só faz sentido se aplicado à indústria como um todo, para chamar a atenção para a falta de representatividade, mais do que tudo. A informação de que este ou aquele filme não passam no teste, parcial ou integralmente são bem menos importantes que a informação de que, por exemplo, 30 anos atrás (1986) apenas 40% dos filmes passavam nos 3 critérios, e em 2016 esse número chegou a quase 70%. São números que oscilam muito ano a ano, mas dá pra ver uma tendência geral. E depois de conseguir que existam mulheres nas histórias, já é possível questionar *como* é a representação, ao invés de simplesmente avaliar se ela existe. (ou a informação de porcentagem de filmes que passam no teste por estilo, ou a relação entre o resultado do teste e a porcentagem de mulheres nos bastidores)
(algumas fontes que sempre gosto de consultar: http://bechdeltest.com e http://imgur.com/a/612eD#0
Existe também o equivalente a este teste para pessoas não brancas (apenas troque mulheres por pessoas não brancas e homens por pessoas brancas) e o teste Vitor Russo para comunidade lgbtqia+, cuja representação ainda é tão ínfima q não dá pra simplesmente trocar os sujeitos nas perguntas. Neste as perguntas são as seguintes:
1- Tem pelo menos 1 personagem declaradamente membro da comunidade lgbtqia+?
2- Sua identidade é complexa o suficiente para que não seja resumida por essa identidade?
3- A personagem está vinculada à trama de tal forma que sua remoção afete significativamente a história? https://www.glaad.org/sri/2016/vitorusso
Bruna Pires
Gostaria muito que vocês fizessem um episódio falando sobre a deusa Ártemis – é uma deusa conhecida, porém pouco discutida. Enfim, fica a sugestão. Abraços 😉
Melhor parte desse cast foi porque eu nunca tinha parado pra pensar e analisar a escassez de personagens femininos que estão fora do clichê. Eu mesmo já carrego pouco a expectativa quando eu vejo que uma mulher é a protagonista e que não vão acabar levando ela e a narrativa pra algo princesa, ou fútil.
Agora vou ficar analisando tudo que já li/assisti hahahahah
Vamos lá, vou comentar mas também colocar no balaio o episódio anterior. Eu tenho um problema de como o Pablo coloca a jornada no herói nessas discussões, apesar de concordar em partes com diversas opiniões dele sobre a mesma. Basicamente é sempre levado a entender como “Uma forma de bolo onde toda a história é exatamente a mesma, só mudando o contexto”. Pois não é.
Mas antes de discorrer sobre, vou colocar do que gosto quando o Pablo defende a forma de pensar dele. Jornada do Herói não é a única estrutura a ser utilizada, tanto não é como diversos autores, baseados e inspirados em outras histórias constroem a narrativa de outras maneiras. Como por exemplo, o supracitado Tolkien, que nos 45 do segundo tempo transforma SAM, um coadjuvante, como um dos principais responsáveis pela destruição do Anel. De como Frodo falha na tentação e o antagonista até então, também vítima do anel, Gollum, por força do acaso acaba se desequilibrando e caindo junto com o objeto no fogo de Mordor. Ou então, The Mist, ou O Nevoeiro, que termina com o pai matando o filho e todos os sobreviventes em nome de uma morte em paz no meio do inferno alienígena que se instaura no mundo. E por aí vai. Não são poucos os filmes que usam outras estruturas, ou criam corruptelas da própria jornada para contar suas histórias e eu gosto de várias delas.
Então não tenho problemas com falar que a Jornada não é a única forma de contar uma boa história, capicce?
Acho bem leviano falar que a Jornada é a grande causadora da mesma e genérica história, quando na verdade é falha do autor em criar uma proposta interessante e guiar o espectador para o inesperado. Inclusive me incomodou muito o fato de colocar a Jornada como algo especificamente masculino. Acho que quando relegamos papéis, seja para homens e mulheres, geramos erros. Então não vejo qualquer problema, uma mulher ser o papel central da estrutura. EM nada ela atribui ao gênero masculino uma forma de herói melhor. Nem sequer precisam ser desafios físicos ou aventurescos. Então parece que muitas vezes se confunde as nomeclaturas do passo-a-passo como literal e as vezes como figurativo, quando convém é figurativo, quando não é literal.
Não precisa existir Dragão, espada, mago e sequer mestre físico na jornada. Vocês sabem disso certamente, mas muitas vezes foi colocado como se precisasse realmente repetir os mesmos elementos de muitas histórias para ser uma jornada efetiva. Para começo de conversa Jornada do Herói como a conhecemos é século 20, só um amalgama estrutural de outras histórias que tem muito mais a ver com ritmo e elementos narrativos que realmente essas pedras fundamentais ou a famosa expressão “forma de bolo”. Inclusive, o herói sombrio também existe na jornada e ele pode falhar no meio da aventura, como Anakin na trilogia nova-mas-não-tão-nova-assim.
Não é apenas Star Wars, Matrix, Harry Potter e derivados da cultura popular que se aproveitam da jornada, esses epicentros masculinos. Sempre enxerguei A Jornada como uma forma de entendermos e aplicarmos uma linguagem subjetiva nas histórias de maneira a melhor agradar o público.
Inclusive, irei reescutar pois tive a impressão que o mito de Psique pode também inclusive se enquadrar na jornada em alguns aspectos.
Mas aí, Andrei, a gente está falando de duas coisas completamente diferentes. Você fala do autor e a estrutura narrativa que ele escolhe e, de fato, a Jornada do Herói não se impõe sobre ele ao escrever. Mas eu estou falando – e sempre falei, e talvez tenha sido mais enfático no outro episódio (só não repeti a ênfase pra não ficar repetitivo) – da forma como a Jornada se impõe sobre a vida das pessoas e como elas constróem suas auto-narrativas, suas vidas mesmo, baseadas quase que exclusivamente nesse monomito, tanto homens quanto mulheres. E isso é complicado, pelos motivos listados no episódio anterior.
E outra coisa que eu frisei também: toda história segue uma curva narrativa com uma exposição, um crescendo, o clímax e a conclusão. Isso é verdade pra TODAS as histórias, o que muda é a forma como essas partes são exploradas e, às vezes, até a ordem delas. Tanto a Jornada do Herói quanto a Jornada da Alma que eu propus seguem essa curva natural de narrativas. Então, é possível – como algumas pessoas comentaram no post do ep. anterior – perceber as duas estruturas em uma mesma história! Até mesmo porque elas não são mutuamente excludentes. O que muda, de fato, é o foco narrativo: enquanto a Jornada da Alma foca-se no encontro subjetivo da identidade e personalidade do protagonista, diferenciando-se da comunidade da qual surge e através da qual faz a jornada, culminando na redenção pessoal (independente do coletivo), a Jornada do Herói é focada no crescimento espiritual e consequente redenção coletiva através do Herói que era diferente do coletivo e percorreu uma jornada individual para tal.
O que vamos perceber mais, na verdade, depende não só da ênfase dada pelo autor, como também daquilo que nós leitores consideramos mais! Infelizmente – e principalmente nas narrativas do Cinema – os autores abusam TANTO da jornada do herói que não sobra espaço pra mais nada… =/
uma “heroina” que lembrei foi da Celaena da serie Trono de Vidro, pensando um pouco sobre a historia enquanto ouvia o cast comecei a pensa se a poderia ser estruturada na lenda de Eros e Psique.
Pablo já leu essa serie? se sim, oque achou?
Nunca li! Vai ter que entrar na lista infinita de livros a ler… =D
não to achando nem o canal nem o programa nem nada no itunes 🙁
Olá Isabella.
Tente re-assinar o canal no iTunes. Use o link para isso que tem no alto da postagem.
Se mesmo assim não der certo, nos avise!
abraço
É normal q nao encontro mais o canal nem os podcasts on ITunes ?
Olá Thais.
Tente re-assinar o canal no iTunes. Use o link para isso que tem no alto da postagem.
Se mesmo assim não der certo, nos avise!
abraço
Eu só queria dizer que não acho a JK Rowling essa rainha toda do feminismo, por mais incrível que a Hermione tenha sido escrita. Digo, hoje em dia ela tem dez mil vezes mais poder e liberdade criativa e nem por isso Cormoran Strike, Cursed Child (ao qual ela deveria ter lido antes de dar o aval dela) ou Animais Fantásticos deixaram de ter seus protagonistas homens brancos etc etc, ou mesmo apresentam diversidade étnica e sexual além da média atual (até um tanto abaixo, eu diria). Ela é toda desconstruidona e lacradora no twitter, mas na hora do vamovê, de criar um produto que potencialmente vai impactar uma geração, ela não parece fazer muito esforço pra fugir dos padrões, e padrões antigos.
Mas aí, Henrique, a gente precisa entender ainda que ela enfrenta um mercado editorial muito fechado que pede por mais histórias do protagonista. Em Animais Fantásticos, ela quis contar a história de outro personagem que serviu de base para um outor livreto que ela escrevera – e acontece que ele era masculino… Mas isso não impede que a presidente da MACUSA seja mulher negra e que o protagonista seja acompanhada por mulheres…
Inclusive, em A Criança Amaldiçoada, existe todo um novo relacionamento com mulheres. Há a presença de uma nova personagem, central para a trama. Além disso, Hermione Granger é revelada como a nova Ministra da Magia – além de, na peça produzida, ela ser interpretada por uma mulher negra – apesar de toda a resistência de muita gente… http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-36454875
Ela já criou um produto que de fato impactou toda uma geração e continua criando e ganhando dinheiros com isso. A fuga dos padrões acontecem aos poucos, pois se ela quiser ser publicada, ela ainda vai precisar da ajuda do mercado editorial que ainda é muito fechado e restrito… 😉
Não acredito que ela seja tão refém assim, não creio que a restrição do mercado deve ter tanto efeito pra escritora que sozinha revitalizou a literatura infanto-juvenil. Ela é a escritora do planeta que mais tem banca pra poder bater o pé. Só imagino o que não deve ter de editora que se mataria pra poder publicar qualquer coisa escrita por ela, pelo poder de venda do nome dela.
O caso do Cormoran Strike pra mim é o mais evidente, porque ela usou pseudônimo, foi bem nas escondidas, queria se sentir livre, fez mais por vontade do que necessidade, e a personagem feminina de mais destaque é co-protagonista. A diversidade nas obras dela é sempre periférica, nunca atingem o protagonismo, o que acho uma pena pelas possibilidades de alcance que ela é a autora que mais tem.
Enfim, acho sim que ela é um tanto acomodada, e isso é ótimo para manter os padrões, enquanto o serviço de mudança vai ficando pra outras autoras e autores que trabalham mais do que falam pelas suas ideologias.
Um minuto de atenção pra mais um homem que acha que os esforços feministas de uma mulher não foram suficientes, que podia ter sido melhor…
Foca no detalhe que ele acha que as pressões que a autora sofre e sofreu no mercado literário machista não são tão fortes assim. Ela podia ter feito mais e sido mais feminista!
Meu ponto é apenas que eu acho que se tem uma mulher cujo nome tem poder de venda pra peitar de frente esse mercado machista é ela. O que tá errado nessa afirmação, independente de quem tá questionando isso?
Ela tem peito, e peitou e muito o mercado. Quando ela era apenas mais uma escritora de um único hit, ela mostrou a todos de que era capaz com livro após livro. Ela comprou a briga com personagens femininas capazes de representar meninas no mundo todo de forma corajosa. E continua mostrando do que uma mulher é capaz através de cada projeto dela. Vc nunca vai saber o que é para uma mulher sentir orgulho de uma outra mulher ter chegado tão longe, ao menos que já tenha ouvido, como ela, todos os nãos e tenha todas as portas que ela teve fechada na sua cara por ser mulher. E sim, faz diferença quem faz essa afirmação. Porque, o que vc, do alto do seu privilégio de homem, acha que podia ser melhor, eu, como mulher, só tenho a agradecer!
Eu não enxergava esse gênero como fator determinante porque conheço mulheres com a mesma opinião que eu. Uma amiga minha, que começou a escrever por causa da JK, é ainda mais cáustica sobre o que ela esperava dos trabalhos atuais dela. Tenho contato com um público gay de HP que ficou frustradíssimo em nível estratosférico com o desperdício que foi os meninos do Cursed Child não serem um casal depois de como a relação deles é desenvolvida. Rola um desapontamento e às vezes um desencantamento com alguns fãs sim, enquanto outros continuam adorando ela, acontece. Mas se tudo que eu disse vai ser filtrado como eu sendo um machista ingrato que não reconhece os esforços e contribuições passadas dela… bom, paciência, que daí não adianta forçar diálogo. Burro fui eu de inventar de ter críticas à Rainha.
Cara, vc não percebeu MESMO o problema do seu argumento? A mulher faz o que ela bem quiser! Se ela quiser ser feminista panfletária, ela pode. E se ela quiser escrever uma história sobre meninos e deixar o feminismo de lado, ela também pode! O que não pode é homem que não entende a dificuldade que é ser mulher em um mercado e mundo machista, que não entende o nível de sofrimento dela, dizer o que a mulher – qualquer mulher – pode ou deve fazer com relação ao feminismo, um movimento que nem é o nosso! O nosso lugar nessa luta não é criticar que ela poderia ou deveria ter feito mais – porque a gente não faz IDEIA do quanto ela já fez, e a gente é incapaz de fazer uma fração durante toda a nossa vida do que ela faz antes do café da manhã. O nosso lugar é simplesmente dar nosso espaço pra que mais mulheres possam falar e ser o que elas bem quiserem! Já tem muito homem cagando regra por aí sobre como as mulheres devem se comportar e até como devem parir seus filhos pra chegar mais um e dizer que qualquer mulher poderia ter sido mais feminista. E sim, criticar da forma como você fez, como disse a Ana, “do alto do seu privilégio de homem”, é se comportar como todos os outros homens que ela enfrentou e enfrenta que fecharam mais e mais portas. Ela não é rainha e nem a melhor escritora do mundo ou representante feminista na literatura. O problema do seu argumento não é a crítica à Joanne Rowling – e sim, ninguém é imune a críticas, nem as mulheres -, mas sim o fato de que você estava cagando regra de como uma feminista deveria se portar dentro do feminismo… menos, amigo… menos… antes de criticar como mulheres devem se portar como feministas, analise o seu comportamento de homem e como ele está atrapalhando ou não esse movimento…
Critique o livro, critique a obra, critique o mercado editorial. Fique à vontade para criticar quem você quiser! Mas na hora de falar sobre o feminismo – se você, homem, quer de fato apoiar o feminismo – deixe que as mulheres falem por si mesmas e mostre que você não é mais um desses homens caga-regra que existem por aí… ajude a agregar ao movimento, não a desconstruí-lo! =)
“Conheço mulheres com a mesma opinião que eu” it´s the new “até tenho amigos gays/negros, não sou homofóbico/racista”!
Ah, tá certo! Ela já era A JK Rowling no primeiro Harry Potter. Tá SERTYNHO!
Olááá,
demorei 2 meses mas cheguei aqui! Peço desculpas adiantadas pelo textão.
Eu acho que as críticas às jornadas foram um pouco duras. Eu conheci a jornada da heroína não tem muito tempo, e me identifiquei muito com ela, em um nível muito pessoal, acho que é uma forma muito bacana de diferenciar a jornada que um grande grupo de mulheres de fato passamos.
Sobre o teste de Bechdel: a Alice Bechdel não é uma pesquisadora, é uma cartunista americana, autora de Dykes to watch out for. Em 1985 ela publicou em DTWOF uma tirinha chamada “The Rule” que apresentava a regra, criada por uma amiga chamada Liz Wallace, a quem ela agradece na tirinha. http://alisonbechdel.blogspot.com.br/2005/08/rule.html
E ele não é um bom teste para medir representação feminina em *1* filme. Acho importante salientar que ele não diz se o filme é bom, se é feminista, se tem representatividade ou se essa representação é positiva.
Ele é um teste que só faz sentido se aplicado à indústria como um todo, para chamar a atenção para a falta de representatividade, mais do que tudo. A informação de que este ou aquele filme não passam no teste, parcial ou integralmente são bem menos importantes que a informação de que, por exemplo, 30 anos atrás (1986) apenas 40% dos filmes passavam nos 3 critérios, e em 2016 esse número chegou a quase 70%. São números que oscilam muito ano a ano, mas dá pra ver uma tendência geral. E depois de conseguir que existam mulheres nas histórias, já é possível questionar *como* é a representação, ao invés de simplesmente avaliar se ela existe. (ou a informação de porcentagem de filmes que passam no teste por estilo, ou a relação entre o resultado do teste e a porcentagem de mulheres nos bastidores)
(algumas fontes que sempre gosto de consultar: http://bechdeltest.com e http://imgur.com/a/612eD#0
Existe também o equivalente a este teste para pessoas não brancas (apenas troque mulheres por pessoas não brancas e homens por pessoas brancas) e o teste Vitor Russo para comunidade lgbtqia+, cuja representação ainda é tão ínfima q não dá pra simplesmente trocar os sujeitos nas perguntas. Neste as perguntas são as seguintes:
1- Tem pelo menos 1 personagem declaradamente membro da comunidade lgbtqia+?
2- Sua identidade é complexa o suficiente para que não seja resumida por essa identidade?
3- A personagem está vinculada à trama de tal forma que sua remoção afete significativamente a história?
https://www.glaad.org/sri/2016/vitorusso
Gostaria muito que vocês fizessem um episódio falando sobre a deusa Ártemis – é uma deusa conhecida, porém pouco discutida. Enfim, fica a sugestão. Abraços 😉