Imortais (Immortals)

Imortais (Immortals, EUA, 2011), é um filme que tenta ir na esteira de 300 (300, EUA, 2007) e Tróia (Troy, EUA, 2004) ao procurar explorar temas gregos.

Mas acredito que esqueceram de avisar aos produtores que os direitos autorais sobre temas mitológicos já expiraram, e que roteirizar uma história de Homero, Hesíodo ou qualquer outro autor clássico grego não gera processo.

Só isso para explicar tanta alteração numa história já conhecida e que tem cenas de ação, sexo e violência suficientes para atrair o público.

Porque digo isso?

Não consegui reconhecer no filme nenhum personagem da mitologia grega que conheço. Vou listar alguns pontos que me chamaram a atenção e fazer uma breve comparação.

Theseus, que na mitologia grega é o filho de uma princesa com o rei de Atenas (ou Poseidon, segundo algumas versões), neste filme é o filho de uma mãe solteira hostilizada por toda uma vila, que sabe lutar e é chamado de camponês. E é ateu. Algo inimaginável para uma história que se passa no que seria a antiguidade mitológica. Na antiguidade clássica, por mais que uma pessoa não fosse religiosa fervorosa, não duvidaria da existência de uma ou mais divindades.


Mas voltando ao filme, Theseus conhece uma profetisa, Fedra, que o ajuda a fugir dos inimigos, juntamente com um ladrão. Um sacerdote e outro escravo/guerreiro também fogem, aparentemente para cumprir alguma cota de figurantes mínimos.

Não há sinal de que, em algum momento, este Theseus irá se tornar o grande herói de Atenas, que participa de inúmeras aventuras e realizador de grandes feitos. É apenas um guerreiro escolhido por Zeus e destinado a apenas um grande feito.

Do outro lado, temos Hipérion (que nada tem a ver com o Titã pai de Hélios) em sua tentativa de libertar os Titãs, conquistar todo o mundo grego e derrotar os deuses que tanto odeia.

Todos os seus guerreiros usam máscaras. E é aí que o mais próximo de um Minotauro aparece na história: um guerreiro que usa uma Máscara de Touro com chifres enormes e é, claro, derrotado por Theseus. Sem ajuda de nenhuma princesa e sua meada de lã.

Os Deuses relutam em intervir no que se passa com a humanidade, invocando uma Lei que ditaria a não intervenção. Só poderiam intervir diretamente é no caso dos Titãs serem libertados, sob pena de serem punidos com a morte.

Como assim?? Zeus matando outros deuses do Olimpo? De onde tiraram isso? Se tem algo do qual não se pode acusar os deuses gregos é de ignorarem os humanos. A intervenção na vida cotidiana e até em guerras é retratada em praticamente todas as histórias. Sem falar nos inúmeros filhos que tiveram com humanas.

Para completar as referências mitológicas há um artefato místico, o Arco de Épiro, que é tão poderoso que pode libertar os Titãs de sua prisão no Tártaro. Não achei nada sobre Épiro na mitologia. É uma referência ao arco de Héracles que, após a morte do herói, foi herdado por Filoctetes e seria fundamental para a vitória dos Gregos sobre Tróia. Suas flechas foram envenenadas com o sangue da Hidra o que as torna mortais. Nada parecidas com as “flechas energéticas” do filme.

O que mais posso dizer deste filme?

Achei o roteiro confuso. Só no final parece ter algum sentido. Muitos elementos são apresentados de forma aleatória e/ou equivocadas. Quem entende um pouco que seja de mitologia grega se espanta com a forma que ela aparece. Quem não entende talvez goste das cenas de luta.

Não posso dizer pra que não o assistam. Muita gente gosta das cenas de luta e é bom que cada um tenha sua opinião. Mas não vale um ingresso de cinema, principalmente se for numa sala 3D.

Caso veja em vídeo, vale a pena anotar o nome da maioria dos personagens que aparecem e fizer uma pesquisa mínima irá descobrir um mundo extremamente interessante. E totalmente diferente do apresentado.

FICHA TÉCNICA
Diretor: Tarsem Singh
Elenco: Henry Cavill, Stephen Dorff, Isabel Lucas, Freida Pinto, Luke Evans, Kellan Lutz, John Hurt, Mickey Rourke
Produção: Mark Canton, Ryan Kavanaugh, Gianni Nunnari
Roteiro: Charles Parlapanides, Vlas Parlapanides
Fotografia: Brendan Galvin
Trilha Sonora: Trevor Morris
Duração: 110 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Aventura
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Universal Pictures / Relativity Media / Atmosphere Entertainment MM / Hollywood Gang Productions

Autora: Nilda Alcarinquë (@nildaalcarinque)

14 comentários em “Imortais (Immortals)”

  1. O filme tinha um grande potencial, mas não foi o mesmo que “300”.
    O enredo possui vários erros e inconsistências… O tal arco megaboga teve pouca utilidade real.

    No geral, curti o filme. Especialmente a cena dos deuses entrando em ação e destruindo tudo (só não entendi o slow motion pós golpe divino)

  2. Por que po kra eh mó legal né O.o

    Colocaram o arco do loirinho do Caverna do Dragão XD ateu xDDDDD essa eu ri muito. outra parte legal é quando o nome Immortals vira 11/11/11.

  3. E que titãs eram aqueles que pareciam mais indígenas australianos zumbis???? Nunca vi isso.

    Zeus tava com um bigodinho de malandro da Lapa e os outros deuses uma penca de adolescentes! Putz….vampiro adolescente, lobisomem adolescente, anjo adolescente, Fera adolescente e agora deuses gregos adolescentes????

    Como a crítica mencionou, como filme de ação ele é legal. O filme tem umas partes interessantes, mas como um todo ele é ruim e muitíssimo pouco fiel ao estilo grego.

  4. O filme é excelente, quer exatidão na mitologia? vá ler um livro, cinema é diversão e esse “Imortais ” serve pra isso.

  5. Descordo em parte com você Carlos, acho que um filme nem sempre deve “emburrescer” os outros, muitas pessoas compram esse filme achando que é a real mitologia que está sendo mostrada.

  6. Exatamente Alan.
    E como digo no terceiro parágrafo: a história do mito de Teseu tem ação, sexo, intriga e violência suficientes para sustentar um filme nos padrões atuais. Ou até mesmo uma série.

    Aliás, eu conheci a história de Teseu e do Minotauro na TV, na primeira versão do Sítio do Pica Pau Amarelo. E quando li uma das versões do mito percebi o quanto Monteiro Lobato e os roteiristas da TV Educativa conseguiram realizar uma adaptação fiel.
    Se a TV brasileira, na década de 70, conseguiu adapatar a história a ponto de cativar adultos e crianças, porquê Hollywood não consegue? (sim, adultos assistiam o Sítio na época, e gostavam!)

    De qualquer forma, Imortais não pode ser considerado o filme sobre o mito de Teseu, ou sobre a Titomaquia.

  7. Nossa linda essa critica….
    concordo em genero numero e grau…

    se eu não gostasse de mitologia talvez ainda curtisse o filme…mas vendo a monstruosidade q eles criaram….

    com mto custo cheguei ao fim do filme e vi que não valeu..e não vai valer a continuação e “prometem”

  8. Críticas como essa do Carlos eu ouço aos montes. Não faz sentido isso. Só porque algo prima pela diversão tem que ser idiota e deturpador da história original? Aliás, o problema em si não é nem deturpar a história original, mas deturpar de uma maneira cagada, que é o que vemos em Imortais.

  9. Esse filme é uma mistura de cavaleiros do zodíaco, Drácula (a motivação do vilão é a mesma), filosofia zen budista, carnaval, cotas, crepúsculo, god of war, preciso falar mais?

    Podem falar que é um bom filme de ação, mas não um filme sobre mitologia… é engraçado que algumas pessoas não veem importância a mitologia ser estuprada, mas ficariam irritadas quando veem Hollywood mostrar o Brasil como uma selva cheia de macacos e a capital em Buenos Aires.

    A mentalidades dos gregos era diferente da nossa, infelizmente Hollywood sempre enquadra na visão judaica-cristã… tem um livro chamado Memórias de Adriano, ele mostra como uma pessoa de outra época pensa..

    abraços

  10. Eu esperava mais de ‘Os Imortais’.
    Bem mais na realidade.

    A crítica feita aos filmes toca exatamente nos mesmos pontos que eu também observei. Além disso, senti que tentaram dar uma cristianizada no filme, justamente, como citado, por essa Lei que impede a intervenção dos deuses ser chamada pelo próprio Zeus de Livre arbítrio, um conceito cristão.

  11. Olha não vejo o porque de tantas criticas contra o filme. Ok, ele não é o melhor filme de todos, mas é um bom filme, e a sua proposta de “entreter” comigo funcionou. Para quem esta acostumado com Mitologia Grega, ele peca em vários pontos. Mas também quem conhece Mitologia Grega e bem, sabe que existem várias fontes sobre suas lendas e cada uma apresenta a sua própria versão. O caso é que o filme descontextualizou muito os deuses, não gostei deles serem representados com aparência tão “jovem”, os deuses gregos são famosos pelas suas grandes barbas ao menos com Poseidon e Zeus deveria ser assim. Athena parece ter saído do colegial e infelizmente, por causa do nosso senso comum atual é preciso sempre haver um “bonzinho” e um “malzinho” e aplicar isso na Mitologia Grega é um crime, já que os deuses lá, não agem seguindo essa premissa. Mas um ponto a se pensar é: Em outras variações de adaptações de mitologias são muito aplaudidas, mesmo fugindo totalmente da essência dela, um exemplo disso é o Thor dos quadrinhos Marvel, que não tem nada haver com o original, mas todos gostam, ou até mesmo os Cavaleiros do Zodiaco, que nenhum dos deuses ou histórias tem haver com a mitologia grega mas mesmo assim muitos gostam. As vezes devemos deixar de lado isso e curtir o filme, pois mesmo sendo totalmente fora de foco ele quis apresentar uma outra versão e não vejo mal nisso. O caso é que a premissa é boa, mas se fosse melhor executada seria bem melhor. Acho que se passassem isso para uma outra midia, como quadrinhos ou livro e desenvolvessem mais o lado dos deuses e parassem com esse lance de “bem e mal” a coisa ia melhorar muito. E se botarem BARBAS neles e a Athena ser um pouco mais velha a ia coisa funcionará de forma linda. Mas gosto da questão de poder mudar e moldar uma nova história. Enfim eu gostei.

    PS: Desculpem pelo post tão grande.

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