Sobre o Céu — Entre o Mito e a Ciência: Vênus

O Mito

A maravilhosa Vênus faz parte do panteão dos deuses romanos. Sua representação grega é a bela Afrodite.

Uma das lendas do nascimento de Vênus relata que Saturno, o Titã, usando uma foice, extirpa os órgãos genitais de seu pai, o Céu. A genitália arrancada cai das alturas e fecunda o imenso Mar revolto por uma noite inteira. Pela manhã, do meio da ondas, finalmente surge a mais bela de todas as deusas. Outra lenda conta que ela é o fruto do amor de Júpiter e Dione. Já uma terceira tradição sugere que a deusa do amor, da fertilidade e da sexualidade teria surgido da espuma do mar, do interior de uma concha que passou a ser o seu trono. A encantadora Vênus também é representada em um carro puxado por cisnes que cruzavam o céu mitológico da antiguidade.

Certa vez, Júpiter o poderoso deus dos céus, em agradecimento por Vulcano ter forjado os terríveis raios brilhantes e estrondosos, concedeu-lhe a mão de sua filha Vênus. No entanto, a deusa traiu o deus dos vulcões e da forja com Marte, o terrível deus da guerra, dando à luz Cupido, o pequeno deus arqueiro das flechas mágicas do amor que enfeitiçava homens e deuses.

Vênus também teve outros casos amorosos como foi com Mercúrio, Baco e Adônis. Mas, segundo a lenda, nenhuma mulher mortal ou imortal a superou em beleza e sedução.

A Ciência

A mais remota menção ao planeta Vênus aparece em um registro de 685 a.c. da biblioteca de Assurbanipal, em Nínive capital do reino Assírio.

Vênus também é conhecido como a “estrela do pastor”, a luz que orientou muitos viajantes ao longo história. Também é conhecido como estrela D’alva quando surge pela manhã e Vésper ao pôr-do-sol. O planeta brilhante como uma estrela é o que mais se assemelha com a Terra em tamanho, 12.104 km de diâmetro ( nosso planeta natal tem 12.756 km de diâmetro ).

Assim como aconteceu com Mercúrio, os antigos gregos, egípcios e chineses julgavam ser Vênus duas estrelas distintas. Mas Pitágoras, o filósofo foi um dos que perceberam o erro no século VI a.c.

Sua órbita em torno do Sol leva 224 dias terrestres e sua rotação, curiosamente mais lenta, demora 243 dias dos da Terra. Estranhamente o invólucro de nuvens viaja 60 vezes mais rápido que a superfície. E por causa, talvez, da baixa rotação, seu campo magnético é muito fraco, produzido por um modesto núcleo formado basicamente de ferro e níquel. Em compensação a crosta rochosa de Vênus é mais espessa que a da Terra, chegando a 100 km em média.

Surpreendentemente, Vênus gira em sentido retrógrado, sendo o único do sistema solar a apresentar este movimento reverso. Por muitos séculos o planeta irmão gêmeo da Terra foi visto como um mistério a ser desvendado devido a uma capa de nuvens que o envolve, impossibilitando a observação de seu relevo. Tal manto de nuvens é o responsável pelo brilho intenso, fazendo com que o observador o confunda com uma estrela. O seu albedo ( índice de capacidade que um corpo tem em devolver – refletir a luz ao espaço ) é altíssimo, em torno de 70%. Só para estabelecer uma comparação, a Lua possui um albedo de 7%.

Pelo fato de Vênus ser envolvido por uma grossa camada de nuvens com cerca de 350 km de espessura, sua pressão atmosférica é 90 vezes maior que o de nosso planeta. Isso explica a diferença brutal de pressão atmosférica entre planetas tão parecidos em tamanho e massa.

A composição das nuvens de Vênus é impressionante. Somente o dióxido de carbono praticamente domina toda a atmosfera com 96% do total dos gases existentes. O nitrogênio que aqui na Terra é abundante, em Vênus chega a ser desprezível. Existem ainda traços ínfimos de vapor de água, dióxido de enxofre e oxigênio.

Nas camadas mais superiores das nuvens foram descobertas quantidades de ácido sulfúrico que atingem velocidades de 360 km por hora, concluindo que a chuva que ocorre por lá é altamente corrosiva.

Em dezembro de 1970 os aparelhos da sonda Venera 7 mediram a temperatura da superfície de Vênus que registrou abrasadores 470 graus Celsius.

Mais recente, de 1990 a 1993, a sonda norte-americana Magalhães mapeou 98% de toda a superfície daquele planeta, revelando que em seu relevo existem planícies vulcânicas, montanhas e depressões que estiveram escondidas dos olhos dos humanos por milhares de anos.

Se alguém morasse em Vênus, passaria toda a sua vida sem jamais ter visto o Sol. Mas sempre que olharmos para o céu, Vênus estará sobre o horizonte, em sua vigília cósmica, encantando e despertando curiosidade.

AUTOR: Ricardo Costac