Nesse pequeno texto, vou me propor a analisar as múltiplas maneiras de se encarar a mitologia egípcia.
Basicamente, durante cerca de 1500 anos ou mais a escrita egípcia, e a língua falada por aquele povo se perdeu. Isso foi conseqüência do domínio grego na dinastia Lágida (Ptolomaica) onde ocorreu lenta e inexoravelmente á substituição do egípcio pelo Copta, um idioma descendente do egípcio, mas com influências nítidas do grego. Assim, boa parte do antigo saber preservado nas estelas, papiros e templos foram se perdendo, deixando de ser compreendida. Tal processo durou séculos, mas muito foi auxiliado pelo cristianismo, e pela perda por parte do povo na crença nos sacerdotes (onde estava o Faraó? Por que o Egito se sujeitava aos estrangeiros? Quem governava a cheia de fato?) e Deuses, primeiro atingidos pela miríade de Deuses Greco-Romanos e mais tarde pelo Cristianismo (de fato, a igreja Cristã Copta é oriunda do Egito).
Devido a esses fatores, a velha religião do Egito foi se afastando de seu povo, e se fechando nos templos, preservando os seus mistérios mais do que nunca. Que se compreenda que de forma alguma a religião do Egito era, anteriormente, um culto aberto. Porém, a relação entre os deuses e o povo era comprovada em fatos como a cheia, os desertos, o faraó, etc. Agora esse equilíbrio foi rompido, e a língua afastou ainda mais a população e os sacerdotes. O resultado foi que o cristianismo se alastrou, destruindo o velho saber (papiros, estelas, templos…) e por fim fechando o último grande centro de saber, o templo onde se celebravam os mistérios de Ísis. Assim, perdeu-se a chave para se entender o que restava.
Com o passar dos séculos, cada vez mais se mistificou o Egito e sua religião, analisando-a segundo um contexto atual e não em sua época. Pessoas, por ignorância ou agindo de má-fé, passaram a criar conexões inexistentes entre a religião do povo do Nilo e supostas tradições posteriores. O incompreensível Egito era agora o berço do misticismo, de uma série de coisas. Cavaleiros Templários, mais de mil anos depois descobriram, aprenderam e preservaram o saber, que se sabe lá como estava incólume depois da queda de Alexandria, do domínio Omíada, Abássida e Fatímida.
Claro que parte religião Egípcia, bem como a ciência dessa civilização – entendida esta última como todos os avanços técnicos na arquitetura, engenharia, entre outros ramos de conhecimento – influenciou outros povos, o que nos faz depositários de muitas descobertas desse povo. Um exemplo claro é a aspirina, que teve origem num antigo remédio Egípcio. Mas daí a traçar relações com tradições a qual o acesso era quase impossível é “forçar a barra” demais. Simplesmente não havia quem pudesse entender o que significava a misteriosa escrita, e caso tivesse, qual a mensagem que ela passava.
O que sabemos do Egito de forma verdadeiramente correta veio da descoberta da pedra da roseta, que possibilitou que se decifrasse os hieróglifos. Mas a mensagem ainda estava longe de ser entendida. Apenas com o uso de crônicas de povos vizinhos – gregos, sírios, fenícios, entre outros – e de novas descobertas, como o Papiro de Manetôn, bem como o de Turim entre outros foi possível traçar a epopeia da sociedade Egípcia. E foi muito por tentativa e erro – quantas vezes a maneira de se entender a sociedade egípcia, ou um período da historia ou o que quer que fosse mudou inteiramente com base nas descobertas de um túmulo. Assim, o estudo do Egito muda a cada nova descoberta, e isso é fascinante.
O que isso tem a ver com mitologia? Simples. É preciso que se analise a mitologia egípcia sobre os paradigmas da egiptologia – abrangendo aqui, em seu sentido amplo, toda e qualquer ramo das ciências que estude o antigo Egito – da ciência. Por que essa análise tem a vantagem de analisar tudo até encontrar uma resposta de fatos racionais, ou seja, que façam sentido e sejam razoavelmente capazes de resistir a questionamentos. É entender que a questão se resolve mais facilmente e sem tanto alarde se os egípcios criaram as pirâmides mobilizando grandes contingentes de pessoas, trabalhadores – não escravos! – que erigiram as pirâmides, apoiados por um corpo de arquitetos cuja técnica evoluiu com o tempo, por tentativa e erro (e não que os et’s fizeram isso, com o maior respeito pelos que crêem nisso). Igualmente, é interpretar o mito de Osíris versus Seth levando em consideração a guerra que aqueles povos sofreram à época que o mito passou a ser contado.
Naturalmente que apesar dos avanços, existem aqueles que buscam as respostas no saber não científico, que envolve o Ocultismo e várias outras formas de esoterismo. Perfeitamente, e o autor não tem nenhum tipo de preconceito ou falta de respeito por essa maneira de se encarar o Egito. Ele apenas discorda dela.