O Mito
Uma lenda conta que a bela ninfa Coronis, depois de unir-se a Apolo, teve um envolvimento amoroso com o mortal Ísquis. Informado da traição por uma gralha, Apolo matou Coronis, mas pouco antes de queimar seu corpo sem vida, o deus percebeu que havia uma criança em seu ventre. Este menino recebeu o nome de Asclépio (nome grego, em latim Esculápio).
Anos depois Asclépio foi entregue ao centauro Quíron que lhe ensinou a medicina. A lenda da serpente nasceu ao Asclépio observar uma serpente ressuscitar outra de sua espécie com um punhado de erva curativa que trazia na boca. Asclépio ficou admirado com tal possibilidade e usou da medicina e da sua habilidade mágica para ressuscitar os mortos. Sentindo-se ameaçado em sua imortalidade ao ser avisado por Hades que o equilíbrio do mundo dos mortos estava sendo prejudicado, Zeus fulminou Asclépio com um de seus raios.
Enfurecido, Apolo vingou-se matando os Cíclopes que fabricavam os raios mortais. A serpente passou, então, a ser eternamente ligada à imagem e aos feitos de Asclépio e os dois transformaram-se em constelação. Sua estória foi relatada por escritores da Idade Clássica como Apolodoro, Píndaro e o próprio Homero, na Ilíada. Há quem defenda que Asclépio realmente existiu e contribuiu para o mundo grego com o seu incomum dom de curar.
A Ciência
Ofiúco, em grego, significa “o homem que segura a serpente”. De 28 de novembro a 17 de dezembro o Sol cruza aparentemente esta constelação, o que na verdade é o movimento orbital da Terra em torno do Sol que causa este efeito astronômico. Por perfazer esse caminho zodiacal, denominado como eclíptica, foi iniciada uma polêmica entre astrônomos e astrólogos sobre a veracidade das previsões astrológicas, pois sendo o décimo terceiro componente do zodíaco, as datas de cada signo deveriam ser alteradas para uma nova classificação. Os astrólogos reagiram declarando que isso não prejudica em nada as previsões. Os astrônomos, por sua vez, consideram que a astrologia não tem base científica alguma. A polêmica segue.
A representação artística de Ofiúco é um homem sustentando uma serpente. O ofídio estelar é separado em duas partes separadas pelo corpo do homem que a segura, a cabeça é chamada de Serpens Caput e a outra extremidade de Serpens Cauda. Na verdade é a sobreposição de uma constelação na outra: Ofiúco, o homem, e a Serpente.
Nos limites dessa constelação se observa Barnard, uma das estrelas mais próximas do nosso sistema solar. Esta estrela é o corpo estelar que mais se desloca no firmamento, aquele de maior movimento próprio. Para se ter uma idéia, nos últimos duzentos anos Barnard percorreu o equivalente ao diâmetro de nossa Lua, deslocamento notável para uma estrela. Outra curiosidade dessa constelação é que a última explosão de supernova em nossa galáxia aconteceu exatamente naquela região.
Mesmo com um simples binóculo é possível enxergar algumas formações nos limites de Ofiúco. Dentre elas estão as estrelas mais marcantes como Rasalhague, Muliphen, Yed Prior, Cebalrai, Yed Posterior, Han, Sabik, Sinistra, Marfik e Helkath. Ainda existem as formações globulares estelares que são M9, M10, M12, M14, M19, M62, M107, NGC6356, NGC6572, NGC6633. E também a nebulosa escura de nome Cachimbo, que contrasta com o enxame de corpos celestes brilhantes em sua volta.
Asclépio, o grande médico, por fim, alcançou o seu propósito de encontrar a imortalidade. Ele e sua serpente ficarão para sempre no céu, olhando lá de cima os limitados homens mortais.
AUTOR: Ricardo Costac