Morgana

Por Ioldanach

A Origem de Morgana

Desde os autores da Idade Média aos da literatura contemporânea nada se apresenta mais controverso do que a figura de Morgana, onde em algumas versões ela é tida como a grande vilã no enredo enquanto outros designam a ela o papel de fundamental aliada de Arthur.

No principal documento que a cita historicamente, a saber o livro intitulado “Vita Merlini” (Vida de Merlin) de autoria de Geoffrey of Monmouth (1100 – 1155), Morgana é apresentada como uma das nove irmãs que governavam um mágico lugar a que chamavam “ilha de maçãs” e que homens conheciam pelo nome de “A Ilha Afortunada” (o mesma é citada em “Navigatio Sancti Brendani” por São Brandão na narrativa de suas lendárias viagens aum Paraíso Perdido) pelo fato de que ali a Mãe Natureza nutria seus habitantes com tamanha abundancia que nem havia necessidade de cultivar a terra e nela passar o arado.

Morgana é aqui chamada de “Morgen” por Geoffrey , sendo descrita por ele como tendo notável beleza, extraordinários conhecimentos e incríveis poderes de mudar a sua própria forma. Seria ela uma espécie de líder e mentora de suas irmãs. Porém, a importância que dá a ela no “Vita Merlini” é secundária já que o texto concentra mais em falar de Merlin (praticamente só um parágrafo é gasto para mencioná-la) que encerra uma espécie de trilogia que deu inicio com “Prophetiae Merlini” (Profecias de Merlin) e passa por “Historia Regum Britanniae” (Histórias dos Reis da Britania).

Posteriormente a mesma personagem com certas mudanças é citada com um pouco mais destaque como “Morgawse” (vemos outros autores menos renomados a chama-la também de “Anna”) por Sir Thomas Malory (1405-1471) em seu livro “Le Morte d´Artur” onde é compilado para o francês as sagas arturianas. Porém, seja qual fosse o nome o fato é que Morgana e outros personagens femininos figuram como secundários em face Arthur, Merlin e os Cavaleiros da Távola Redonda.

Tempos depois já no século XX a escritora norte-americana Marion Zimmer Bradley (1930-1999) tem a iniciativa de criar uma versão sob o ponto feminino das lendas arturianas em seu livro “As Brumas de Avalon” onde Morgana é finalmente elevada a condição de quase personagem central da estória só que assumindo a alcunha de “Morgana Le Fey” no enredo.

A Outra Face de Morgana

Ocorre que seja como Morgen, Morgawse, Anna, Morgana Le Fey ou qual for o nome , tomada como personagem principal ou mero coadjuvante na trama bem como também encarando seu papel como vilã ou heróina na vida de Arthur, o fato é que toda esta narrativa não passa de uma espécie de “releitura” de lendas bem mais antigas.

Nesta perspectiva, centrando a obra de Geoffrey of Monmouth como grande paradigma na criação da mitologia arturiana, pelo o qual outros escritores vieram depois para se inspirar pelos século afora, a tese mais aceita é que ele fez uma versão “franco-normanda” de mitos célticos e o mesclou com ficção histórica, ou seja, pegou lendas ancestrais e procedeu uma “revisão” nos eventos históricos de modo que lendas e fatos se misturassem como sendo uma só coisa.

Seja quem fosse a Morgana como personagem histórica, partindo é claro do pressuposto que ela tenha de fato existido, não resta dúvida que Morrigan (ou se muito a sua versão galesa como “deusa Gwyar”) é a principal base de inspiração para Geoffrey compor a personagem.

Evidências que comprovam esta ascendência mítica sobre Morgana são inúmeras que vão desde sua descrição física , seus poderes e atitudes que são bem típicos daqueles vistos em Morrigan. Leia-se, por exemplo, o poema “Morgan le Fay” de autoria de Madison Julius Cawein (1865 -1914) e vejam se “a sombra de Morrigan” não aparece lá:

De Samito* era feito o seu leito,
No seu cabelo um aro de ouro,
Como luminescência orgânica, no amarelo-torrado da luz do luar,
Era luzente e fria.
Com olhos cinzentos claros, ela olhava ameaçadora e fixamente;
Com lábios vermelhos claros cantava uma canção:
Qual era o cavaleiro que ao olha-la,
Não a receava?

Obs: samito era uma espécie de tecido pesado de seda usado na Idade Média.

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