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Nesse episódio do Papo Lendário, Leonardo Mitocôndria e Nilda Alcarinquë entrevistam o tradutor Reinaldo José Lopes sobre a nova tradução das obras de Tolkien.
Conheça as polêmicas mudanças nessa nova tradução.
Entenda qual foi o objetivo e caminho escolhido pela editora Harper Collins nessas novas traduções.
Saiba mais sobre algumas das obras de JRR Tolkien.
– Esse episódio possui transcrição, veja mais abaixo.
— LINKS —
— EQUIPE —
Pauta, edição: Leonardo Mitôcondria
Locução da abertura: Ira Croft
Host: Leonardo Mitôcondria
Participante: Nilda Alcarinquë
Convidado: Reinaldo José Lopes
— APOIE o Mitografias —
— Agradecimentos aos Apoiadores —
Adriano Gomes Carreira
Alan Franco
Alexandre Iombriller Chagas
Aline Aparecida Matias
Ana Lúcia Merege Correia
André Santos
Antunes Thiago
Bruno Gouvea Santos
Clecius Alexandre Duran
Déborah Santos
Domenica Mendes
Eder Cardoso Santana
Edmilson Zeferino da Silva
Everson
Everton Gouveia
Gabriele Tschá
Jonathan Souza de Oliveira
José Eduardo de Oliveira Silva
Leila Pereira Minetto
Leonardo Rocha da Silva
Leticia Passos Affini
Lindonil Rodrigues dos Reis
Mateus Seenem Tavares
Mayra
Nilda Alcarinquë
Petronio de Tilio Neto
Rafael Resca
Rafa Mello
Talita Kelly Martinez
— Transcrição realizada por Amanda Barreiro (@manda_barreiro) —
[00:00:00]
[Vinheta de abertura]: Você está ouvindo Papo Lendário, podcast de mitologias do projeto Mitografias. Quer conhecer sobre mitos, lendas, folclore e muito mais? Acesse: mitografias.com.br.
[Trilha sonora]
Leonardo: Muito bem, ouvinte. No episódio de hoje, retornaremos a falar das obras de Tolkien, mas dessa vez não sobre sua mitologia, e sim diretamente sobre as obras. Para ser mais exato, sobre a nova tradução que as obras têm tido aqui no Brasil. E, com isso, hoje vamos conversar com o Reinaldo José Lopes, o responsável por essa tradução. Então, Reinaldo, muito obrigado por aceitar o convite. Você já participou aqui de um episódio do Papo Lendário, mas pode se apresentar para o ouvinte.
Reinaldo: Obrigado pelo convite. Sempre um prazer estar aqui com vocês, com o Leonardo, com a Nilda, em especial, é uma amigona de muito tempo. Bom, eu sou jornalista de ciência e sou tradutor de Tolkien, e é basicamente isso. E desconhecido – o ilustre desconhecido também.
Leonardo: Fala mais aí do seu currículo, essa parte de tradução aí relacionada à obra do Tolkien, que você tem um mestrado.
Reinaldo: Na verdade, eu sonho em traduzir Tolkien desde que eu li Tolkien pela primeira vez, que foi em 1988, quando eu peguei o Silmarillion em inglês – foi a primeira coisa que eu li do Tolkien e gamei, apaixonei, fiquei louco naquilo. Enquanto não li todo o resto da obra, eu não sosseguei. E eu fiz jornalismo, mas eu quis fazer uma carreira acadêmica mais pela paixão no Tolkien mesmo, para realmente me tornar um especialista em Tolkien oficialmente, digamos. Eu pedi e consegui para ter como minha orientadora a Lenita Esteves, professora Lenita, muito querida, que foi tradutora das edições da Martins Fontes do Senhor dos Anéis e do Hobbit. Então eu passei com ela o mestrado e o doutorado – isso deve ter dado tipo uns oito anos, mais ou menos, de trabalho em conjunto com ela. E aí, então, eu fiz o meu mestrado fazendo uma tradução comentada do livro Tree and Leaf, Árvore e Folha, que agora finalmente saiu. O texto que eu traduzi no meu mestrado agora está saindo, agora mais completo, revisado e tal, mas foi o que eu tinha feito no meu mestrado. E aí o meu doutorado foi uma viagem maluca, que foi uma análise da pseudotradução. Para quem não sabe, aquela coisa de o Tolkien fingir que ele não é o autor dos livros da Terra Média, mas sim apenas um cara que pegou manuscritos antigos e traduziu aquilo para o inglês. Então eu analisei no doutorado como é que esse procedimento literário aumenta a sensação de verossimilhança, de realidade, de profundidade cultural da obra. Então basicamente foi isso o meu trabalho acadêmico com o Tolkien por enquanto.
Leonardo: Por enquanto.
Reinaldo: Por enquanto, espero fazer mais.
Leonardo: E o mestrado e o doutorado estão acessíveis? Como que está?
Reinaldo: Estão, dá para googlar aí e dá para achar facilmente. Se vocês googlarem o meu nome inteiro, Reinaldo José Lopes, mais Árvore das Estórias, com E, aparece o mestrado, dá para baixar o PDF lá no site da USP, e o doutorado é um título mais chatinho, porque é em inglês direto, que é With Many Voices and in Many Tongues, Com Muitas Vozes e em Muitas Línguas. Aí ficou, então, With Many Voices and in Many Tongues, pseudotradução, autorrefração e profundidade cultural na ficção de JRR Tolkien. Então esse é o doutorado, também se googlar, acha facilmente.
Leonardo: Você começou com a questão do mestrado e doutorado, e aí só depois que você começou a de fato trabalhar traduzindo aí as obras.
Reinaldo: É, na verdade, no mestrado eu traduzi. Como foi tradução comentada, foi uma coisa prática, então no final eu apresentei mesmo a tradução ali quase pronta – faltaram algumas coisinhas. Faltaram, sei lá, dois terços da peça de teatro que tem no livro, que eu não consegui traduzir inteira a tempo, porque era uma métrica muito maluca e muito trabalhosa, que eu só fui dominar para valer mais tarde. Mas já tinha sido a parte prática no mestrado, mas não tinha sido publicada comercialmente, de fato.
Leonardo: E aí, de forma comercial mesmo, foi só agora com a Harper Collins, não é?
Reinaldo: Exatamente.
Leonardo: Como que foi que você conseguiu isso aí? Eles que te chamaram? Você foi até eles? Como que deu início a esse trabalho?
Reinaldo: Cara, foi muita conjunção de fatores e de sorte mesmo. O que acontece é que eu tenho uma carreira como autor de livros de divulgação científica também, eu trabalho, meu dia a dia, na Folha como repórter e tal, tenho um blog, uma coluna, e eu também… ultimamente eu tenho, os últimos, sei lá, cinco, seis anos, feito vários livros, já estou com nove livros publicados de divulgação científica. E um deles eu fiz para a própria Harper Collins – agora já são dois, estou fazendo já o terceiro para eles, que a gente tinha falado na outra vez que eu estive aqui no podcast, que foi o 1499, o Brasil Antes de Cabral, de pré-história do Brasil. Eu fiz para a Harper esse livro, ele foi bem e continua vendendo muito bem, graças a deus, até hoje. É o meu bestseller. Acho que já vendeu quase 20… vendeu 25 mil exemplares já pelo Brasil.
Nilda: Toda vez que alguém vem falar alguma coisa sobre indígena brasileiro, eu falo: “Pega esse livro aqui e lê primeiro antes de falar besteira”, pronto. Sabe? Ele é muito bom para tirar algumas coisas que você tem sobre indígenas brasileiros, sabe? Aquela coisa errada.
Leonardo: É, os estereótipos.
Reinaldo: Pois é, e aí foi meio que tirar esses estereótipos. Mas, enfim, aí então eu iniciei uma relação muito boa com a editora e eu sabia que a Harper é a editora do Tolkien no Reino Unido, na Inglaterra, e eu queria muito que um trabalho, digamos, mais consistente fosse feito com a obra do Tolkien no Brasil, que a gente pudesse trazer para cá os livros (inint) [00:06:36] que não pareciam ter um horizonte muito grande de sair no Brasil tão já e tudo mais, e eu joguei para a minha editora, a Renata Sturm, na época. Eu falei: “E aí, Renata, será que não tem essa chance? Eu queria muito poder ajudar”, e aí ela me falou, então, do Samuel Couto, que hoje é o cara que está tocando todo esse projeto do Tolkien na Harper. Falou: “Ah, não, o Samuel, que é um grande fã de Tolkien também, está em negociações com a Harper britânica e eu acho que você vai ter boas notícias sobre isso logo”. Isso foi tipo outubro de 2017, se eu não me engano. Aí, no começo de 2018, o Samuel entrou em contato comigo para contar que eles tinham conseguido os direitos da obra inteira, que eles queriam realmente dar uma repaginada na maneira como Tolkien era visto no Brasil, dar uma visão de literatura de alto nível para o Tolkien no Brasil e não apenas uma coisa que tivesse no nicho de nerd, embora sem abandonar esse nicho, obviamente, e ele perguntou o que eu poderia contribuir na obra. Originalmente, ele queria até pegar grandes nomes da literatura brasileira para traduzir Tolkien, estava pensando em nomes e tal, não sei o quê. Puxando a brasa para a minha sardinha, eu meio que contra-argumentei achando que o pessoal da Academia Brasileira de Letras não ia querer, talvez, mexer com Tolkien a princípio pelo preconceito, e aí eu falei: “Ah, vou chutar alto, quem sabe ele aceita”, eu falei: “Cara, eu queria muito traduzir o Simarillion, por favor. Se você puder me dar essa oportunidade, vai ser a coisa que eu mais queria na vida, é o livro da minha vida até hoje, o livro que eu mais amo do Tolkien”, enfim. Ele falou: “Está bom, toma”, eu falei: “Putz, devia ter pedido mais coisa já que foi tão fácil assim”. E a partir de aí… e aí ele já me contou que o Ronald Kyrmse, mestre Ronald, nosso colega do conselho de tradução, estava traduzindo também já o Beren e Lúthien, e alguns meses depois… talvez acho que dois meses depois de ele ter topado o Silmarillion, apareceu o lançamento da Queda de Gondolin em inglês, e aí ele falou: “Olha, a gente vai tentar lançar pela primeira vez ao mesmo tempo que sai na língua inglesa, sair no Brasil. Você quer fazer?”, eu falei: “Não, lógico que eu quero”. De novo era coisa da primeira era, coisa que tinha a ver com o Silmarillion, e eu pus na frente, então acabei primeiro a Queda de Gondolin e depois o Silmarillion, e aí a gente formou o conselho de tradução… o Samuel formou um conselho de tradução mais formalizado mesmo para lidar com a obra, e aí a bola foi rolando. Estamos aí desde então. Então começou em março de 2018, eu acho, ou fevereiro, e estamos nessa até hoje.
Leonardo: Então o objetivo da Harper Collins aí, nesse caso, seria pegar, trazer todas obras, até o que ainda até hoje não tinha sido… não foi publicado, não é? Isso está dando certo, já está meio que certinho, ou ainda tem coisas para definir para poder trazer?
Reinaldo: Pelo que eu sei, está dando super certo. A ideia é trazer tudo mesmo, sem exceção nenhuma. Inclusive, novos livros inéditos que talvez apareçam do Tolkien no futuro em inglês, que é uma possibilidade. Não está nada certo, mas talvez tenha ainda coisa. Então sim, a não ser que aconteça uma catástrofe muito grande, eu acho que eu apostaria todas as minhas fichas em que vai sair tudo mesmo. Até porque, de novo, todos os livros praticamente… só o Árvore e Folha. Acho que o Árvore e Folha não vai entrar nessa lista, porque é um livro mais específico mesmo, mas, fora ele, todos os livros literalmente que saíram do Tolkien até agora pela Harper foram bestsellers, uma coisa que nunca tinha acontecido antes com a obra de Tolkien no Brasil também. Então esses livros que vendem muito bem e vendem sempre muito bem vão conseguir segurar um pouco para que livros menos comerciais, mas também muito legais e importantes, acabem saindo também. Então acho que vai rolar, vai rolar, sim.
Nilda: É que eu sei que muita coisa não está exatamente no baú do Christopher, mas era uma pesquisa de recuperar trabalhos acadêmicos dele que foram publicados e foram perdidos. E perdido assim: era uma época que não era tão sistematizada como hoje.
Reinaldo: Hoje em dia tudo está no PDF, você vai lá e… está no site da revista científica. Naquela época não tinha, então… mas talvez outras coisas também, não sei, não descartaria que tivesse coisas que não sejam acadêmicas também. Não sei.
Leonardo: E, só para confirmar, essa seria a segunda tradução em português do Brasil, não é?
Reinaldo: Depende. Na verdade, se a gente contar o Senhor dos Anéis, é a terceira, porque Senhor dos Anéis teve a versão piratex dos anos 70. Antes da primeira edição oficial da Martins Fontes, foi uma edição pirata com seis volumes e tudo mais. Até hoje é meio clássica, tem umas coisas curiosas nela. Eu pessoalmente nunca li essa edição, preciso suprir essa lacuna, mas, então, no caso, do Senhor dos Anéis seria a terceira edição em português do Brasil, fora as de Portugal.
Nilda: Eu só li o primeiro livro dessa, não consegui o restante para ler. São difíceis de achar, muito difíceis.
Reinaldo: Sim. E tem alguns achados que a gente até recuperou nesse O Senhor dos Anéis novo. Eles davam umas viajadas, mas eles tinham umas sacadas boas em alguns pontos, a gente meio fez uma pequena homenagem em algumas coisas ali.
[Trilha sonora]
Leonardo: O que eu achei bem interessante, que foi um dos motivos que eu quis fazer o episódio, foi que eu fui vendo textos e vídeos, você falando dessa tradução, e aí eu te vi falando que foi escolhido um estilo próprio, tudo que está ali foi por querer mesmo.
Reinaldo: É, de caso pensado.
Leonardo: Isso que eu acho legal, e eu acho legal mostrar qual que é esse estilo de tradução.
Reinaldo: É, vou tentar explicar. Se eu falar demais, vocês me cortam ou tentam esclarecer, enfim.
Leonardo: Fica à vontade.
Reinaldo: Mas eu acho o seguinte: primeiro, não dá para escolher um estilo único, porque o Tolkien era também muito, digamos, versátil mesmo, ele conseguia variar entre vários estilos diferentes. A habilidade de linguista dele em grande parte está nisso, ele saber variar os registros linguísticos, desde o mais arcaico e elevado e épico até coisas que são dialeto rural, dialeto urbano, gíria, erro mesmo, erro de inglés – em vez de erro de português -, enfim, ele conseguia ter essa flexibilidade muito grande e, nas traduções anteriores, isso em geral era meio achatado, aplainado, ficava tudo mais ou menos na mesma coisa. O que a gente tentou fazer, então, foi, primeiro, manter essa variação. No caso do Silmarillion e de textos ligados ao Silmarillion, que seria o caso da Queda de Gondolin, Beren e Lútien, enfim, tem uma linguagem que é bem realmente arcaica, que às vezes era um pouco suavizada nas traduções que tinha até hoje. O tradutor não ia até o ponto onde o Tolkien ia na nossa visão, pelo menos na minha, principalmente. Então a gente tentou trazer isso de volta. Cria-se ua certa dificuldade no texto? Cria-se, mas é porque o texto em inglês é difícil, então não faz sentido que o texto em português seja mais facilitado; ele tem que ser tão fácil ou tão difícil quanto o texto em português. É uma visão bem formal, de você olhar os aspectos formais detalhados do texto do Tolkien em inglês e tentar reproduzir isso ao máximo possível em português. É basicamente isso mesmo.
Leonardo: Isso é uma ideia que já tem, assim, ou vocês que foram pensando? Ou já é comum, já é algo possível de ser feito mesmo, de as pessoas escolherem esse caminho de ficar mais próximo mesmo? Eu imagino que já seja um caminho que tem mesmo, não é?
Reinaldo: Sim, sim.
Leonardo: Vocês não estão inventando nada, assim?
Reinaldo: Não, não, é um caminho possível. Para falar as categorias que eu sempre uso, que simplifica um pouco o debate, mas no geral é meio isso, tem a tradução que o pessoal chama de facilitadora, que é justamente essa mais comum, mais tradicional, que é não criar tantas barreiras para o leitor, tentar pegar um público mais amplo possível do ponto de vista da forma do texto e, se o texto original der umas dificuldades meio pesadas, você dá uma suavizada nisso; e tem a que a gente chama de estrangeirizadora, que é você realmente tentar reproduzir ao máximo possível, às vezes até esticando um pouco a corda, essas coisas meio estranhas que tem no texto original. Então é uma coisa que a gente vê muito em traduções da Bíblia, por exemplo. Tem tradução da Bíblia que é para o uso religioso, devocional e tal, então é uma tradução fiel em relação ao sentido, mas ela dá uma suavizada nas esquisitices que tem no hebraico, no grego, os tipos de metáfora às vezes que o autor bíblico está usando e tal. E tem traduções como a do Frederico Lourenço, que é um cara fantástico lá de Portugal, que traduz Homero e agora está traduzindo a Bíblia do grego – acho que já está no terceiro volume desse trabalho dele -, que aí ele realmente tenta pegar toda a cara do texto grego mesmo. Se você não sabe grego e você quer ter uma ideia de qual é o estilo literário dos autores do Novo Testamento, por exemplo, dos Evangelhos, se você pegar essa tradução do Frederico, você vai ter uma noção bem clara não apenas do sentido do texto, mas de como os caras escreviam mesmo. A minha visão se aproxima meio que da dele. Obviamente, ele é um cara muitíssimo mais fodão que eu, coitado de mim, mas a ideia é mais ou menos a mesma, e aí da gente também no conselho como um todo, eu acho.
Nilda: Saindo um pouco da questão de Tolkien, mas indo para a questão da tradução, porque a gente tem essa questão de falar que tudo que ciências humanas às vezes nem é ciência, e a tradução tem alguma coisa de ciência, não tem? Porque ela não é uma coisa que você faz, assim, chutando, não é? Não é fazer o cursinho de inglês na esquina.
Reinaldo: Não, porque você tem que levar em conta mil coisas, na verdade, e são coisas que são meio que objetivas, tipo, o período que o autor escreveu, aquela palavra que ele está usando, aquela escolha dele, qual seria um equivalente de um período mais ou menos semelhante em português? Ou a frase dele tem uma inversão esquisita, que ele bota o objeto lá na frente e o sujeito lá para o final e tal. Isso é uma coisa da língua dele só ou é uma coisa do estilo dele? Outros autores que ele é fã, que ele está fazendo referência… tem mil coisas ali que você tem que tentar olhar de um ponto de vista acho que objetivo para ver o que você reproduz, e, claro, tem uma coisa que é mais subjetiva: até que ponto eu vou? O que soou bem ou não? Essa coisa de ouvido é muito subjetiva. Então é uma mistura de ciência com arte, mas muitas outras ciências são assim também, é normal que sejam. Eu acho que é por aí.
Nilda: Porque eu ando atualmente em contato, conversando muito com uma tradutora, ela é poetisa e traduz um poema, ela fala que já ofereceram trabalho para ela que ela olhou e falou: “Não, esse aqui eu não tenho maturidade no momento nem conhecimento suficiente de tradução para traduzir”, tipo assim, o estudo de tradução dela vai por uma linha e ela falou: “Esse aqui teria que ser traduzido em outra linha”, aí eu falei: “Mas tem isso?”, ela falou: “Não pode ser qualquer um para traduzir qualquer texto”, aí ela falou: “Poesia, então, piorou, tem que pensar bem antes de fazer”.
Reinaldo: Poesia é outro esquema louco, mas, engraçado, no começo eu tinha pânico e, hoje, se bobear, a coisa que eu mais gosto de fazer é traduzir poesia. O problema é que exige tempo. Às vezes você fica 10 minutos, 15 minutos em um único verso, mas é muito legal de fazer, mas tem um jogo de perde e ganha, não tem jeito, porque poesia também, em grande parte, é forma. E é engraçado, nesses debates sobre o próprio Tolkien, eu vejo o pessoal às vezes ficando bravo, porque “Mas mudou o sentido, tinha que ter traduzido ao pé da letra e não sei o que”, mas a métrica, a rima, as outras coisas formais de um verso são tão importantes ou mais do que às vezes o sentido puro do negócio, e essa coisa formal moldou o sentido daquele verso original. O pessoal não pega muito isso. É importante ressaltar isso aí também.
Nilda: Além disso, tem a questão de… a tradução ao pé da letra… às vezes você traduz ao pé da letra e, para o português ou qualquer outra língua, vai dizer nada, porque tem aquela questão de expressão em linguística. Eu me lembro que, na tradução da Martins Fontes – porque a primeira vez que eu li não foi a tradução da Martins Fontes, quando eu li Senhor dos Anéis, foi a tradução portuguesa. Quando eu fui reler na tradução da Martins Fontes, tem um trecho no segundo capítulo do Senhor dos Anéis que fala mais ou menos assim: eles começam a discutir onde os hobbits, o pessoal da vila, achava que estaria o Bilbo, porque o Bilbo tinha sumido. Era a conversa de todo mundo. Aí termina assim, tem uma (inint) [00:18:49]: “E vários hobbits achavam que ele tinha ido para o azul”, e eu lembro que eu fiz uma discussão uma vez sobre isso: o que quer dizer isso? E vocês deram uma solução para isso melhor, porque no Brasil ir para o azul não quer dizer porcaria nenhuma.
Reinaldo: É, não, é uma expressão muito do inglês mesmo. Eu confesso que eu até gostei, mas eu sou um cara mais literalista. Eu até gostei que estava o no azul na versão da Martins Fontes, mas é aquela coisa, não tem tanto certo e errado. Isso também para entrar na cabeça das pessoas é meio difícil. O certo e errado não existem tanto, existem escolhas e justificativas melhores ou piores para escolhas, mas é tudo uma questão de escolha.
Leonardo: É, você falou de não ter certo e errado, mas eu imagino que pode ter muito defensor de ambos os lados.
Nilda: É, eu não gostei, particularmente, do azul, porque eu olhei e aquilo e falei: “Mas o que é isso que está querendo dizer aqui?”, porque para mim não fazia sentido. Não era uma coisa grande para a obra, para o entendimento, mas foi uma coisa chata. A gente fica ali procurando os erros de tradução.
Reinaldo: Sim.
Nilda: Sem saber inglês, mas procura erro de tradução.
Reinaldo: Eu pediria para as pessoas em geral mais misericórdia com os tradutores, porque infelizmente não é máquina fazendo. Se fosse máquina fazendo também, ia ter umas coisas estranhas, mas é difícil, às vezes a gente viaja e às vezes passa, que nem o famoso erro do Silmarillion dos irmãos, que todo mundo fica me chicoteando: “Os filhos de Finarfin e os irmãos de Finarfin”. Eu sei que brothers é uma coisa e sons é outra, eu sei, está bom? Só que você cochila e às vezes todo mundo que revisou, que o pessoal leu também, leu com cuidado e pediu várias mudanças em outros pontos do texto, e, naquele ponto passou, gente. Então acontece.
Leonardo: Esse eu vejo que sempre o pessoal bate na tecla, nesse dos irmãos e dos sons aí, mas foi um erro mesmo, foi uma deslizada, mas em outras edições já ajustou, vai ajustar? Como está?
Reinaldo: Não, já ajustou, logo que a gente ficou sabendo, já ajustou.
Leonardo: Então é uma coisa que não tem mais o que bater.
Reinaldo: Sim. Não, e o pessoal esquece que o original lá do Tolkien também tinha um monte de erro, e erro que ele cometeu, que depois ele corrigiu na segunda edição em inglês; erro que veio da tipografia; erro que veio de revisor. Texto perfeito não existe, ainda mais um texto de 1200 páginas, que nem o Senhor dos Anéis, ou mesmo de 500, que nem o Silmarillion. Texto perfeito não existe, gente. Isso aí é quimera que a pessoa quer. Mas tudo bem, acontece.
Leonardo: Eu acho que aí cabem dois tipos de crítica, e aí depende de como a pessoa vem criticar, porque esse aí que seria tipo um deslize mesmo, que aí em uma outra edição você ajusta, ou então, se a pessoa acha que daquela forma, aquele estilo não é apropriado, e aí cada um vai ter que discutir para ver o que acha.
Reinaldo: É, aí cai na subjetividade, aí é outra história.
Nilda: Eu lembro bastante e eu consigo ver quando é um erro pontual, uma coisa que escapou, há descuido e relaxo de texto que tem uma certa editora no Brasil, por exemplo, que você pega os textos dela, você olha, você vê que… sei lá, traduziram no Google aquilo. Você pega e fala: “Putz”. Não tem cuidado de editoração, não tem nada, sabe? Às vezes você olha assim e fala: “Isso aqui está muito errado”. Agora, quando é um erro em uma página de mil páginas, é erro.
Reinaldo Bom, Nilda, eu nunca mais vou acusar ninguém de traduzir nada no Google, porque também várias vezes já falaram que eu traduzia as coisas no Google, então nunca mais, porque eu sei que eu fiquei lá meses em cima do livro e não traduzi pelo Google, jamais faria isso. Aliás, tem colegas meus que usam aplicativos de editoração, de comparação de texto e tal, mas eu faço o negócio no braço, totalmente no braço. Então eu falo: “Meu, sacanagem”, mas, então, eu nunca mais vou falar isso de traduzir no Google, porque vai saber o que aconteceu ali.
Nilda: No caso dessa editora, você percebe… depois a gente descobriu que sequer eles traduziram, eles plagiaram, coisas desse tipo.
Reinaldo: Mas aí você fala desse estilo de se aproximar mais a obra original ali e se aproximar das escolhas que o Tolkien também teve, eu fico imaginando assim: o Silmarillion, que já foi um dos que foi publicado… eu ainda não li nenhuma dessas novas traduções, mas eu fico imaginando que talvez para o Silmarillion – não que dos outros não seja interessante – deve ser um dos mais interessantes fazer isso, porque ele é o que eu vejo com um quê mais mítico até, já aproveitando que é um podcast de mitologia. Ele é o que eu vejo que tem muito essa questão cosmogônica, tem dos Valar e tudo, então ele eu acho que talvez seja um dos que mais combine, mais seja interessante realmente fazer isso de se aproximar mais ao estilo original ali do Tolkien, às escolhas dele, para passar realmente aquela ideia, que realmente do Silmarillion – não que as outras obras também não sejam assim -, o estilo dali eu acho que é bem importante.
Reinaldo: Concordo. Uma coisa que você vê isso muito claramente é no primeiro texto do Silmarillion, que é o Ainulindalë, o texto da criação do mundo mesmo, que é cheio de repetições, de retomadas da mesma palavra que dão um certo ritmo, que parece poesia em prosa. Ele é cheio dessas coisinhas. Se você não mantiver isso, você meio que quebra um pouco as pernas do texto em relação ao que era, mas no próprio Senhor dos Anéis tem isso. Ele tem momentos, em especial no Retorno do Rei, que é o livro mais épico, ele vira um mini Silmarillion ali. Tem muitas passagens que são daquele tipo e tem coisas legal que você pega, por exemplo lá no diálogo da Éowyn com o Rei Bruxo. Chega uma hora que ela começa a falar e você vê que ela está falando em verso; ela está falando usando a métrica lá do anglo-saxão. Ela vira para ele e fala: “Éowyn I am, Éomund’s daughter”, “Eu sou Éowyn, filha de Éomund”, mas com a métrica certinha que tem nos poemas que o próprio Tolkien faz depois. Então está espalhado pelo resto da obra, embora o Silmarillion realmente seja o mais heavy nisso. Mas até no Hobbit tem umas passagens que são meio estilo Silmarillion. Você pega para ler ali a Batalha dos Cinco Exércitos, o momento da Batalha dos Cinco Exércitos vira meio que Silmarillion no próprio Hobbit.
Leonardo: E essa escolha de fazer isso aí veio da própria Harper Collins?
Reinaldo: Na verdade, a proposta foi minha e foi acatada, e o resto da equipe acatou, nesse caso.
Leonardo: Você que lançou a ideia?
Reinaldo: É, eu lancei. Perguntaram assim: “Como é que você faria?”, “Eu faria desse jeito, o que vocês acham?” e o pessoal topou. O Samuel até me confidenciou assim: “É uma ousadia que a gente está tendo aqui, porque em outros textos, em outras épocas, a gente não iria tão longe, mas a gente topou e bancou isso”. Aliás, eu sou extremamente grato ao Samuel, porque ele tem sido muito corajoso em tudo.
Nilda: Quantas pessoas estão na equipe de tradução atualmente?
Reinaldo: Por enquanto agora, além do próprio Samuel e da Bruna e do André, que trabalham lá com ele na Harper, de tradutor mesmo estamos eu, o Gabriel Brum, que também era lá da Valinor, o Ronald Krymse, obviamente, o Guilherme Massafera, que está traduzindo O Hobbit anotado, que é um cara muito bom, tem uma cultura literária fantástica, a Cristina Casagrande, que está fazendo Cartas do Papai Noel e Sr. Bliss, e tem pelo menos mais um elemento aí que eu acho que eu não posso falar ainda. Aliás, uma elementa, vamos ter mais cromossomo X.
Leonardo: Eu quis saber de onde tinha surgido essa ideia, de ir para esse estilo, porque independentemente de qualquer crítica que tenha tido, eu acho que Tolkien é uma das obras mais fáceis de se imaginar querer fazer isso. Não que seja mais fácil de fazer, mas mais fácil de imaginar pelo estilo dele em si. É diferente de você pegar um livro mais midiático mesmo ali e querer traduzir assim. De repente, não precisaria tanto. Agora, Tolkien, você tem conteúdo para fazer isso. Então eu fiquei imaginando por que não pensaram isso antes ou, se tinham pensado, mas realmente ficavam com um certo receio, porque você está mexendo com os fãs de Tolkien.
Reinaldo: Sim, sim. Mas também a gente tem que pensar o seguinte: na época em que o Hobbit e o Senhor dos Anéis saíram pela Martins Fontes, a gente não tinha um fandom de Tolkien no Brasil. Não tinha. Até os filmes estourarem, no Brasil, era meia dúzia de zé mané que conhecia esse negócio, quem jogava rpg e olhe lá. Então era uma coisa mais de nicho. Mas aí entra um pouco em hipótese, eu não conheço bem as coisas lá dentro da Martins Fontes, não sei como foram as decisões na época. Eu sei muito de longe. O que eu posso dizer é: número um, a Lenita fez um trabalho muito competentemente, muito profissionalmente, mas para ela foi só um freela, ela não tinha envolvimento emocional e até hoje ela não tem o envolvimento emocional que eu tenho, que o Ronald tem, que o Gabriel tem com a obra. Então esse é um primeiro elemento que eu acho que explica um pouco a coisa. Em segundo lugar, acho que pensando em um público mais geralzão, você fazer uma coisa assim tão desafiadora, no princípio, talvez como cálculo mesmo comercial seja uma coisa meio arriscada, porque isso aqui não é Homero, isso aqui é Tolkien. Não tem uma visão tão do valor literário da obra como a gente tem do nosso lado. Dito isso, eu acho que as traduções do Ronald, que virou meio que o tradutor oficial da Martins Fontes nos últimos, sei lá, acho que até uns 10 anos antes de ir para a Harper, já estavam indo para essa direção. O Contos Inacabados do Ronald, por exemplo, eu acho primoroso; o próprio Filhos de Húrin dele, também acho fantástico. Ele é um cara muito bom, que já tinha uma visão nessa linha. Eu acho que talvez eu tenha radicalizado um pouquinho a mais só do que o Ronald faria, mas não sei. Aí é difícil você se autojulgar.
[Trilha sonora]
[Bloco de recados]
Leonardo: Quando vocês começaram isso aí, que vocês decidiram realmente que iam seguir por esse estilo, vocês já imaginavam, então, que ia ter repercussão, que muita gente ia ficar meio crítica?
Reinaldo: Já, mas eu acho que o principal medo, inclusive foi o medo pessoal meu, que eu fiquei até esperneando lá quanto a isso, foi em relação a coisas menores e mais bobas, que são o que vocês sabem, os famigerados orques, anãos e gobelins. Eu tinha proposto originalmente… eu bati muito o pé para que, na verdade – e todo mundo acha que eu sou o culpado dos orques com QU e tal -, por mim tinha ficado orque com C só para não ter encheção de saco, literalmente, porque eu sabia que as pessoas iam encher o saco. Continuo achando que a gente tomou a melhor decisão do ponto de vista literário e linguístico, está tudo certo, não fizemos cagada nisso aí, mas eu queria evitar a fadiga, como diria Jaiminho, literalmente. Eu realmente não queria comprar essa briga. Porque primeiro eu propus os gobelins. Aliás, quase que foi góbalus. Era para ser góbalus, aí eu falei: “Não…”, porque é puxando o lado grego. Eu falei: “Não, acho que é meio demais. Gobelin? Pode ser”. Aí o Gabriel falou: “Legal, então acho que a gente pode até colocar orque com QU”, eu falei: “Gabriel, não, cara”. “Então volta o goblin com N no final, o goblin com o encontro ali e tal, deixa quieto”, ele falou: “Não, cara, mas veja bem…”, discutimos e acabou ficando, mas eu achava que… e que realmente foi o que encheu mais o saco. O resto foi meio consequência, virou meio avalanche, caiu uma pedrinha e veio todo o resto junto e caiu em cima da gente. Tem algumas coisas que as pessoas depois estranharam, tipo o lance da ordem dos numerais, umas coisas mais bobinhas, mas acho que é tudo meio que consequência, na verdade, dos orques, gobelins e anãos.
Leonardo: É, esse dos orques e gobelins eu lembro que foi a primeira coisa que eu vi em alguma matéria falando sobre as mudanças que teria, e eu já tinha ouvido falar que ia ter essas aí, mas foi quando realmente repercutiu. E eu lembro que eu ficava pensando assim, logo que eu vi de começo eu fiquei: “Ué, vai mudar para quê? Já está enraizado ali, vai mudar, só vai incomodar as pessoas”, mas, ao mesmo tempo… depois de um tempo, eu fiquei pensando: orque também não é uma palavra que você encontra, que não é do nosso vocabulário em si, não é algo que a gente tem aqui no Brasil em si, então a gente vai achar estranho o orque com QU porque a gente está acostumado com orc com C; se fosse o contrário, seria a mesma coisa.
Reinaldo: Sim, sim.
Leonardo: Se fosse com QU e vocês colocassem com C, iria estranhar do mesmo jeito. Então é puramente a questão de estar mudando algo que já estava ali, não de estar errado em si.
Reinaldo: Totalmente afetivo, memória afetiva, subjetivo. Você acertou na mosca, é isso. Mas, enfim, graças a deus não atrapalhou os livros. Só deu um pouquinho de dor de cabeça para a gente, mas os livros não sofreram com isso e acho que a maioria das pessoas viu que é a questão do conjunto e tudo mais.
Nilda: É, eu sou da opinião que, primeiro, se você faz uma tradução nova, você tem que imprimir uma cara nova. Não vou dizer mudar todos os nomes, mas você tem que mudar uma coisa, porque senão seria chegar lá na “Lenita, dá autorização aqui para a gente fazer”, não é? Você não pode deixar do mesmo jeito, você vai ter que fazer outras coisas, dar outros nomes. E às vezes é bom realmente esse pequeno incômodo, essa coisa, porque vai fazer você pensar um pouco sobre isso, sobre essas questões. A primeira vez que eu li Senhor dos Anéis foi na edição portuguesa, de Portugal, e depois fui ler na versão brasileira. Eu sinto diferenças no tom das versões, até porque são portugueses diferentes, e tem livros que eu já li em traduções diferentes que a diferença é que um livro foi traduzido em 1950 e outro no ano 2000, e tiveram que atualizar o vocabulário, porque senão não faria mais sentido muita coisa. Então você tem que fazer essas atualizações também, porque não dá para ficar parado e você pegar a mesma tradução por 30, 40, 50 anos, que tem uma hora que aquela tradução também não vai fazer sentido para a nova geração.
Reinaldo: Pegando na questão mais filosófica mesmo, um dos problemas que eu acho é uma visão essencialista da língua e até da própria ortografia: “Ah, mas está feio com QU e não sei o quê”. O pessoal se esquece que Camões escrevia flecha como frecha, com R, e hoje quem fala frecha é o caboclo. E, se pegar, tem mil outros exemplos assim de como essas coisas são completamente arbitrárias, são escolhas históricas que acabam ficando congeladas por razões que não têm a ver com certo e errado, mas que, na cabeça das pessoas, é o certo e é o errado. Então, sei lá, acho que é bom dar essa chacoalhada.
Leonardo: Então até essa questão dos nomes de orques e goblins foi o que o pessoal mais pegou no pé?
Reinaldo: Ah, sim, disparado. Isso aí foi…
Leonardo: Olha só. Porque, quando eu vi inicialmente, eu vi as mudanças por isso aí, aí eu tive também o estranhamento, mas, depois que eu fui pesquisar mais a fundo, que eu vi outras mudanças ali já mais no texto em si, não só em nomes, eu imaginava que seria no texto, tipo aquele do (ter lugar) [00:34:52], coisa assim, eu imaginei de o pessoal pegar mais no pé disso, porque nome é nome. Você não vai mudar o que é o personagem ou o que ele está fazendo em si, só a escrita do nome. Eu achei interessante. Aí eu acho que mostra mais ainda que é um apego emocional.
Reinaldo: Total. O pessoal vai chegar às coisas um pouco mais complexas de comparar sintaxe, essas coisas, aí vão ser raríssimos casos. Em geral, o pessoal enxerga mais essas coisas micro assim. Uma treta bem enorme assim também que até hoje acontece é em relação a gnomo, porque o Tolkien usava gnomo para falar dos noldor, dos elfos noldor, lá nos textos mais antigos, que começam nos Contos Perdidos e vão até 1930 mais ou menos e tal, e o pessoal reclamou muito do fato de ter usado gnomo na Queda de Gondolin e em Beren e Lúthien, tipo: “Ah, que absurdo, vocês traduziram elfo como gnomo”. Não, a gente não traduziu elfo para gnomo, é que onde está gnomo em português é porque está gnomo em inglês. Reclama com o Tolkien, meu amigo. Mas o pessoal falou que eu era mal educado, porque eu respondi meio que zuando o cara: “Reclama com o Tolkien”, o cara falou: “Ah, que falta de educação”, não sei o quê. Não, mas é isso, é culpa do Tolkien, não é minha.
Leonardo: É por isso que muitas vezes, quando você vê em outras obras às vezes ou até quando é inglês, você vê o que seria um elfo, ou muitas vezes chama de elfo, mas não tem o jeito do elfo do Senhor dos Anéis. O pessoal muitas vezes não está acostumado com essa ideia de gnomo, duende. Tudo isso aí, dependendo da obra, vai misturar tudo. O Tolkien define de um jeito.
Reinaldo: O pessoal acha que o elfo do Tolkien é uma entidade mítica que existe desde os tempos mais primórdios da eternidade. Não, quem criou os elfos do Tolkien foi o Tolkien, ele pegou uma série de influências mitológicas e literárias e deu aquela cara.
Nilda: É, transformam meio que em seres nobres e tudo mais. Tem acho que um episódio do Papo Lendário que nós gravamos sobre elfos que eu falo que tem uma história do Hans Christian Andersen que os elfos são seres noturnos que vivem no cemitério, têm a cabeça oca, comem larvas e mosquitos. Não tem nada a ver. E por que não tem nada a ver? Porque era essa uma das versões de elfo no início do século 20 ou final do século 19. E deixa de ser elfo? Não deixa.
Leonardo: Já deixo também avisado, porque com certeza vai ter gente vindo reclamar aí desse episódio.
Reinaldo: Não, você pode apostar. Vocês estão prontos para a treta, não é? Porque vai vir gente.
Leonardo: Falei de o pessoal vir reclamar, mas realmente uma das reclamações que a pessoa põe, que as pessoas colocam nessa obra, mas em outras também, que é aquele negócio: “Ah, mas isso aí está ficando mais complexo, mais difícil de ler. E aí, isso não é desvantagem? Isso não está sendo ruim? Não querem popularizar? Mas, ao mesmo tempo, colocam um texto mais pesado?”.
Reinaldo: É, isso é complicado. Eu entendo de um lado os argumentos das pessoas, eu já fui chamado várias vezes de elitista também. Mesmo nas respostas que eu fiz a algumas críticas lá, o pessoal falou que eu estava sendo elitista e tal. A questão é a seguinte: número um, eu não acho que exista hierarquia natural de literatura e de linguagem, porque “Ah, existe uma literatura que é a fodona e uma linguagem que é a linguagem padrão das pessoas sábias, iluminadas, e todo o resto é lixo, as coisas populares são lixo”. Não, essa hierarquia é culturalmente e socialmente construída. Beleza. Só que é importante para as pessoas de todas as camadas sociais se tornarem, no fundo, bilíngues, terem uma espécie de bilinguismo entre a linguagem pessoal, familiar, popular que ela tem e a linguagem das literaturas elevadas, primeiro para ela ter acesso a um mundo que dá prestígio, que dá um acesso cultural e uma respeitabilidade cultural para ela. Então para ela é positivo se tornar bilíngue nisso, e é um mundo que abre portas do pensamento, da criatividade humana. Então você puxar as coisas para baixo em vez de dar o acesso para a pessoa para entender aquele mundo, eu acho que acaba sendo mais elitista ainda, mais segregador ainda. Eu sou aqui capiau da roça de São Carlos. Falando normalmente, eu não faço concordância com plural nunca na minha vida. A pessoa que fala: “Como está você?”, eu já acho pedantismo falar isso em uma conversa (inint) [00:39:28], “E aí, como é que você tá?”, mas eu consigo ler o Tolkien, ler Homero, ler a Bíblia e ler Camões e entender, porque eu me tornei bilíngue, no fundo. Então acho que é um pouco por aí o argumento. Obviamente, tem a coisa que você vai estar falsificando a obra original, no fundo. Se você faz essa simplificação tão grande para que todo mundo pegue, você está violentando uma obra que, no original, não era daquele jeito.
Nilda: E eu acho estranho esse tipo de crítica em relação à obra de Tolkien, porque o pessoal já critica: “Ele é lento”, porque existe meio que uma regra de escrita de muitos livros, sabe aquela coisa? Tem que ser em três atos para parecer um filme, você já tem que começar conquistando o público. Tolkien não tem nada disso.
Reinaldo: Não está nem aí para spoiler, inclusive. Bota os spoilers tudo no começo, nos prólogos, não está nem aí para os spoilers. Está cagando, o Tolkien. É assim que eu gosto.
Nilda: Aí você acha que o livro acabou, ele faz um apêndice, aí depois de alguns anos você descobre que aquele apêndice, na verdade, não ia ser o final, ele já tinha escrito um outro, o editor teve que ser forte para cortar aquele terceiro apêndice ali, aquele terceiro final do livro, porque senão não acabaria nunca. Para quem não sabe, o livro do Tolkien não ia acabar – o Senhor dos Anéis – com o Sam voltando para casa, ia ter toda uma outra história dos filhos do Sam já crescidos e ele contando a história dele para os filhos. Você tem que pensar que está escrevendo em outra época, e eu gosto disso, quer dizer, eu gosto de pensar em outra época e pensar em um tempo que é um pouco mais lento que o de hoje, que você não precisa… o livro tem que ter começo, meio e fim, não descreve nada, já chegou e, não sei, isso é uma visão minha. Eu gosto desses livros também, gente, eu gosto de ler um Jogos Vorazes, uma coisa assim, mas aquele livro lento… também é bom você aprender a ler várias coisas, e às vezes em várias linguagens também, várias traduções, para ter uma ideia de como se pensava antes, se pensa hoje. Não sei.
[Trilha sonora]
Leonardo: Querendo ou não, a gente está meio que fazendo uma comparação indiretamente de dois estilos. Fica essa coisa mais próxima aí do leitor, mais entendível; o outro fica mais próxima ali do original. Eu acho que talvez os dois sejam ok e talvez as críticas até sejam ok. Acho que o problema talvez seja, como algumas críticas que eu vi, que ficou muito assim: “Não, tem que ser daquele jeito; do outro, está errado”, sabe? Que nem você tinha falado, não tem uma tradução errada em si. Eu acho que o problema talvez esteja sendo esse, de ficar essa coisa de que tem que ser de um jeito e acabou. E, pensando que as obras do Tolkien já tiveram, pelo menos algumas, pelo menos as mais conhecidas, uma tradução anterior e que era mais, digamos assim, próxima do leitor, eu acho que, então, vale a pena ter algo assim, é um diferencial. Não fica só mais uma tradução praticamente igual. Realmente foi por um outro caminho. De repente até quem é fã sempre vai ter inúmeras versões, então acho que vale a pena você ter ali a edição anterior, da Martins Fontes, e ter essa. Você vai ver a mesma obra com linguagens diferentes, e eu acho que isso só acrescenta.
Reinaldo: Pois é, acho que uma tradução ilumina a outra, no fundo. Porque, de novo, nunca vai ser o original. O pessoal: “Ah, não gostei da tradução”, o original está lá intocado. E, se você não lê inglês, você já não vai ter acesso ao original mesmo, então você compara e vê o que você pode cotejar ali, enfim.
Nilda: Eu sou a pessoa que tem várias versões. Eu falo para o pessoal, eu tenho o Hobbit em latim. Eu não sei nada de latim, mas eu tenho.
Leonardo: Mas eu fico pensando nessa ideia de ter as duas versões, isso acaba sendo interessante, porque eu tenho uma puta dificuldade de reler qualquer livro que seja, porque é tanto livro que eu estou lendo que, quando eu pego algum assim, eu falo: “Putz, podia estar lendo um novo”. Então eu tenho uma certa dificuldade nisso aí. Agora, o Silmarillion, que eu já tinha lido – li o da Martins Fontes -, agora eu tenho esse novo. Vendo essas mudanças, vendo todo esse rebu que deu aí com a nova tradução, está me incentivando a começar a ler logo isso aí, porque eu vejo como um outro livro. É a mesma história e tudo mais, mas eu vi que, como estão falando tanto que tem uma pegada diferente ali, um ritmo diferente, então quero ver como é isso. Tirando um lado positivo disso tudo: está me motivando a ler de novo ali a obra.
Nilda: A primeira vez que eu li o Silmarillion, eu comecei a ler e falei: “Gente, isso aqui parece a Bíblia”, porque ele tem esse… porque o início dele é a criação do mundo e tal, e até hoje eu o utilizo como livro de consulta, assim como eu faço com a Bíblia. Eu pego a Bíblia e abro: “Onde será que tem sobre isso?”, pego o índice remissivo, vou lá e vou atrás de várias coisas, e uso assim. O Senhor dos Anéis e o Silmarillion eu uso muito assim.
Reinaldo: É, a natureza dele é de compêndio, ele foi feito para parecer um compêndio mesmo.
Nilda: Aliás, quanto tempo você demorou para traduzir o Silmarillion?
Reinaldo: É que foi meio truncado, porque entrou a Queda de Gondolin no meio. Eu acho que eu comecei… deve ter sido uns sete, oito meses.
Leonardo: É que eu não sei qual é o tempo médio de uma tradução, mas você saberia dizer se isso foi muito? Foi o padrão que se faz?
Reinaldo: Acho que estaria dentro da média. Não foi superarrastado. A Queda de Gondolin é que foi loucura. A Queda de Gondolin em dois meses e meio saiu, mas é que é um livro breve também. A Queda de Gondolin é curtinho. O Silma é parrudo. Não é O Senhor dos Anéis, mas ele é bem gordinho, é bastante coisa. Acho que deu meio milhão de palavras, se não me engano, 500 mil palavras.
Nilda: E vocês estavam definindo também os padrões de tradução junto com isso, não é? Que palavras usar e tudo mais, porque acho que, depois que você faz esse dicionário básico, essa lista básica de palavras, deve facilitar bastante, não é?
Reinaldo: Facilita, mas também cada livro do Tolkien é mais um caralhão de palavras novas que estão lá para definir. Agora que a gente está entrando no History of Middle Earth, cada livro… cada mergulho é um flash.
Leonardo: Aliás, já que estamos falando aí de alguns livros, para orientar aí o ouvinte, quais então já foram lançados? Foi o Silmarillion, Guerra de Gondolin…
Reinaldo: Espera aí, deixa eu até olhar na prateleira aqui, porque a gente começou, na verdade, com os livros que são biográficos, que não são da obra de ficção, mas são importantes do ponto de vista de bibliografia. Então saiu O Dom da Amizade, do Collin Duriez, que é sobre a relação do Tolkien com o Lewis – com o C. S. Lewis -, aí depois saiu a biografia do Tolkien, do Humphrey Carpenter – os dois são de capinha de tecido bonitinha e tal -, aí foi Queda de Gondolin, O Silmarillion, Beren e Lúthien, aí tivemos O Hobbit, O Senhor dos Anéis, Os Filhos de Húrin e Árvore e Folha, que foi o último que saiu. Saiu agora em abril, que foi o último por enquanto.
Leonardo: Mas traduções sua foram quais?
Reinaldo: Minhas foram quatro, por enquanto: A Queda de Gondolin, O Silmarillion, O Hobbit e o Árvore e Folha.
Nilda: O Hobbit você disse que deu um trabalho, porque tem uma questão de variação de linguagem, não é?
Reinaldo: Dos trolls e tal. E mais que isso: O Hobbit é uma linguagem muito brincalhona. São uns verbos populares muito expressivos, coisa de linguagem um pouco mais infantojuvenil. Isso quebra a cabeça, bastante, e tem os poemas, que são lindos, são muito legais, cada um com uma métrica diferente, mas eu acabei gamando nos poemas do Hobbit. As canções dos gobelins estão cheias de onomatopeias, e cada verso com uma sílaba praticamente. Eu falei: “O que eu faço com esse verso de uma sílaba?”. Tive que dar uma rebolada, mas saiu.
Leonardo: Para esse ano, tem planejado mais lançado? Porque principalmente aí o que a gente está passando, não sei se mudou a agenda.
Reinaldo: Agora estou tentando lembrar exatamente qual é o cronograma oficial, mas pelo menos com certeza esse ano sai Contos Inacabados e sai O Hobbit anotado. E acho que no Natal vai sair Cartas do Papai Noel também; agora não sei se sai Sr. Bliss junto ou não, agora fiquei em dúvida. Depois a gente tenta checar isso aí. Mas tem mais esses, esse ano. Com certeza, Contos Inacabados e Hobbit anotado, e provavelmente Cartas do Papai Noel também. A ideia era lançar as cartas do Tolkien também, uma edição nova das Cartas de Tolkien esse ano, mas não sei se vai rolar.
Nilda: Cartas do Papai Noel é um livro que eu amo muito. A gente até fez um Religare sobre ele, eu gosto demais desse livro. E As Cartas de Tolkien, para quem não conhece, se você quiser ter explicações sobre a obra de Tolkien, nas cartas tem muita explicação do sentido das coisas.
Reinaldo: É engraçado o tempo que ele gastava para explicar isso para carta de fã, basicamente, ou de amigo. Ele realmente fazia umas dissertações sobre o negócio. Tem muita informação legal.
Nilda: Você falou do Árvore e Folha; esse é o que saiu agora em abril, não é? Fala um pouquinho sobre ele.
Reinaldo: É o mais diferentão do Tolkien, eu acho, embora tenha muita coisa diferentona na obra de Tolkien. Ele é o seguinte: tem o grande ensaio teórico, a grande visão teórica do Tolkien sobre o que são os contos de fadas – que ele preferia chamar de estórias de fadas, não contos de fadas -, chama Sobre Histórias de Fadas. Deixa eu até pegar o livro aqui. Chama Sobre Histórias de Fadas, o ensaio, é o principal texto desse livro. Aí a gente tem um poema… seria mais ou menos a mesma argumentação do ensaio, só que em forma de poema, um poema que ele dedicou para o Lewis, inclusive, que chama Mitopéia, o poema, a criação de mitos. Aí tem um conto lindo demais também, que é superbonitinho que nem as Cartas do Papai Noel, mas eu acho superdelicado e doce, ao mesmo tempo meio assustador, que é o Leaf by Niggle – agora, na minha tradução ficou Folha de Cisco, acho que era Folha de Migalha na última edição. Ficou Folha de Cisco agora. E tem, para finalizar, a única peça de teatro que o Tolkien fez na vida, que se passa na época lá da Inglaterra anglo-saxã. O pessoal que assistiu ao Último Reino, na Netflix, ou assiste a Vikings, se passa naquela época basicamente. Se chama O Regresso de Beorhtnoth, filho de Beorhthelm, que é uma discussão sobre a natureza da guerra, a natureza da coragem, é superlegal e é uma métrica desgraçada, lazarenta, difícil de fazer, mas saiu. Graças a deus, saiu. E os poemas são todos bilíngues. Assim como nos outros livros da Harper, tudo que for poema vai estar bilíngue, isso é bem legal também.
Nilda: Nossa, essa peça de teatro do Tolkien eu não sabia da existência.
Reinaldo: É um diálogo, na verdade, dá para fazer com dois atores só, mas é uma peça.
Nilda: Eu preciso pedir esse livro logo, então. O Folha de Cisco, como você traduziu, pelo menos o pouco que eu li sobre ele, essa é uma das obras que o Tolkien menos revisou na vida, não é? Ele meio que sonhou, escreveu e fez uma revisão ortográfica.
Reinaldo: Porque o Tolkien, para parir texto, era uma desgraça. Os partos do Tolkien eram… coitado. Mas esse aqui até que saiu rápido, e é muito legal. Essa coisa da natureza… a discussão toda que tem a ver com o livro, a natureza da arte também. O que significa para o ser humano ser artista, ser criador e tal. Nesse conto, isso aparece bem. É muito bonito.
Leonardo: Então, nesse aí, não só está uma nova tradução como também tem conteúdo novo que na outra edição não tinha.
Reinaldo: Metade do livro é inédito, nunca tinha saído no Brasil de jeito nenhum, que são o outro poema, o Mitopéia, e a peça. Deu para caprichar bem nas notas do tradutor também no ensaio, porque o Tolkien cita mil escritores, e antropólogos, e teóricos, não sei o que, que, para muita gente no Brasil, são coisas mais obscuras, então deu para eu explicar direitinho nas notas. Acho que deu para enriquecer bastante.
Leonardo: Os outros livros que já tinham outras edições também estão com conteúdo novo? Como está?
Reinaldo: Tem algumas coisas interessantes. Por exemplo, no próprio Silmarillion foi incluída uma introdução à segunda edição, do Christopher, que não tinha saído no Brasil ainda, e principalmente uma carta importante de Tolkien, que foi uma carta para ele tentar vender pauta, ele estava tentando vender a publicação do Senhor dos Anéis e do Silmarillion juntos para uma editora lá na Inglaterra. Não deu certo, mas é o Tolkien explicando totalmente toda a mitologia, desde Silmarillion até O Senhor dos Anéis. Deve ter umas 20 páginas de carta, é bem rico isso. O Senhor dos Anéis também tem vários materiais. Todos os livros têm o Ronald explicando as runas e as (inint) [00:52:13] usadas na capa e no frontispício e tal. É superlegal.
Nilda: Toda vez que o pessoal reclama que O Senhor dos Anéis é grande, eu falo: “Gente, vocês não têm ideia, o Tolkien queria que fosse junto com O Silmarillion, tudo em um livro só”. Era aquele livro de você pegar e usar como arma.
Reinaldo: Ele queria publicar O Senhor dos Anéis volume único e O Silmarillion em volume separado, mas O Silmarillion que ele imaginava que ia ser, ia ser um Silmarillion quase do tamanho do Senhor dos Anéis.
Leonardo: Não, mas legal de ter esse conteúdo novo, que isso é mais uma coisa para incentivar, eu acho. Vale muito a pena isso aí. Isso é o que faz o pessoal comprar e recomprar várias e várias edições, sempre tendo uma coisinha a mais.
Reinaldo: Pois é, e a gente gostaria que fosse pela tradução nova, mas a gente sabe que, na verdade, o pessoal quer conteúdo extra, então tudo bem, vamos lá.
Nilda: Eu vou fazer mais uma propaganda do Árvore e Folha, porque você não precisa gostar do Senhor dos Anéis. Se você gosta de mitos, você gosta de histórias de fadas, você gosta de estrutura de histórias, o Árvore e Folha é o que você tem que ler, porque o ensaio do Tolkien sobre aquilo muita gente usa como base para teoria de contos de fadas. O que ele escreve ali é uma teoria mesmo sobre contos de fadas, sobre mitos, muito válida até hoje.
Reinaldo: É superdenso, é superrico, inclusive com reflexões teológicas, a questão da fé do Tolkien também, que em geral ele era bem tímido quanto a isso, ele era um cara mais reservado, mas, nesse ensaio, aflora a relação que ele via entre criar histórias de fadas e ser cristão, e ser religioso e tal. Essa parte é superlegal também.
Leonardo: Nilda, alguma consideração?
Nilda: Não, a consideração é ler o Tolkien, gente. Se vocês não leram ainda, estão perdendo tempo.
Reinaldo: Isso eu concordo 100%.
Nilda: Não precisa ser Terra Média, tem coisas fora da Terra Média publicadas…
Leonardo: Sim, sim.
Nilda: … e vão publicar também.
Leonardo: Apesar de eu gostar muito do universo da Terra Média… eu já achava O Senhor dos Anéis e tudo ali… foi uma leitura um tanto quanto pesada – foi legal, mas foi pesada -, então é legal quando você vai para esses outros livros e acho que você vê mais até do Tolkien nesses outros livros, no sentido de que você vê os estudos dele, você o vê analisando os mitos que tem mesmo, não só os que ele criou para a Terra Média. Então eu acho que vale muito a pena para essas outras obras. Legal de também isso aí estar vindo agora e estar uma coleção só, digamos assim. Porque isso eu fui muito percebendo quando eu fui fazendo o podcast que a gente lançou de cada episódio um livro dele, que a gente fez questão de não falar de Hobbit nem Senhor dos Anéis, que já eram mais conhecidos, mas fomos nesses outros livros. Eu, gravando aquilo lá, tendo que pesquisar para aquilo lá, peguei até mais gosto pelas obras do Tolkien, porque aí eu via o trabalho dele em si, não só a obra dele.
Reinaldo: É. Outro livro que a gente vai publicar algum dia, se deus quiser, é o The Monsters and the Critics, que é um livro só de ensaios teóricos dele. É superlegal, ele analisando lenda arturiana, o Sir Gawain lá. Tem um texto que se chama Um Vício Secreto, que é só sobre a ideia de criar línguas inventadas e tal. É superlegal.
Leonardo: Bom, eu acho que indo aqui para as considerações finais, esse episódio, eu fiz questão de trazer o Reinaldo para estar falando da questão da tradução, porque uma que é Tolkien e no Papo Lendário a gente está sempre falando das obras do Tolkien, é algo que já é comum mesmo, principalmente porque metade da equipe é extremamente fã, então vale a pena, tem conteúdo. E é legal falar da parte de tradução, porque teve um certo rebu, então acho legal mostrar por que está desse jeito como está, por que foi essa mudança, a escolha. Então, já que a gente também tem contato aí com o tradutor, eu achei legal fazer esse episódio. Como eu falei, eu imagino que você, ouvinte, pode ter gostado da tradução, se já leu; pode não ter gostado. Eu imagino que tenha de ambos os lados, mas aqui fica esse episódio para mostrar a visão do tradutor. Eu acho que vale a pena ter um episódio assim. Eu recomendo que leiam os livros, eu acho que, para você realmente dizer se ficou bom ou não, vá até o livro, dê uma lida. Não fique só indo nas críticas que tem por aí, porque, se você é fã do Tolkien, acho que vale a pena.
Reinaldo: É, não quer comprar de cara? Empresta do seu amigo. Se você gostar, depois você compra, não tem problema.
Leonardo: Bom, é isso. Então a gente fica por aqui. Reinaldo, se quiser fazer mais alguma consideração ou também jabá aí, onde as pessoas podem te encontrar.
Reinaldo: Só agradeço muito o convite, então, obrigado, é sempre um prazer estar com você, e precisando, estamos aí. Para quem quiser ver um pouquinho mais sobre as traduções, sobre a obra de Tolkien em geral, sobre élfico também e tal, tem o meu canal no Youtube, que é meu nome inteiro: youtube.com/reinaldojoselopes, tudo junto, que está meio devagar, mas eu vou tentar dar um up lá (inint) [00:57:17].
Leonardo: Beleza. Vão estar todos os links aí.
[Trilha sonora]
[00:58:41]
(FIM)