Desde os tempos mais longínquos, os humanos buscaram dar um significado aos fenômenos misteriosos que se manifestavam no céu. Aqueles pontos brilhantes, os astros que surgiam e desapareciam noite após noite deviam causar tantas dúvidas que os levaram a procurar explicações dentro de seu limitado conhecimento. E as respostas mais plausíveis se revelavam em um mundo mágico, habitado por deuses, heróis e criaturas fantásticas.
O propósito desta coluna é contar um pouco sobre a relação do homem com o universo celeste.
E assim iniciamos com…
O Mito
Mercúrio é um deus romano, a versão do deus grego Hermes. Um dos personagens mais versáteis da mitologia, ele é o fruto da união do poderoso Júpiter e a lindíssima ninfa Maia. A esse deus da mitologia são atribuídas várias funções e títulos como mensageiro dos deuses, protetor dos comerciantes, viajantes, pastores e ladrões, deus das artes acadêmicas e da eloquência.
Também é dada a ele a tarefa de conduzir as almas até o sombrio Hades, o mundo dos mortos, pois lhe é conferido o direito de transitar livremente entre o mundo dos vivos bem como a morada de Plutão, o deus guardião dos mortos.
Desde criança Mercúrio era um deus irrequieto, ágil e rápido, mas igualmente perspicaz, e com poucos dias de vida já arquitetava travessuras e praticava roubos engenhosos. A invenção da lira, o instrumento musical de maviosa sonoridade, também é creditada ao deus mensageiro.
Uma lenda diz que o jovem Mercúrio inventou a lira unindo tripas de reses ao casco de uma tartaruga; a maravilhosa invenção encantou tanto o deus Apolo que este perdoou Mercúrio por ter roubado suas novilhas. A inventividade do deus da velocidade não pára por aí. Ele também é o primeiro a conceber a flauta que mais uma vez deslumbra Apolo que o recompensa com um cetro mágico em troca. A aparência do deus Mercúrio é caracterizada pelas sandálias aladas, capacete com asas e o famoso caduceu, o cetro mágico ornado com duas serpentes, presente de Apolo.
A Ciência
O registro mais antigo que se tem de Mercúrio está com os babilônios e foi realizado em 15 de novembro de 265 a.c. pelo nosso calendário. Muito tempo atrás, ainda na antiguidade, os gregos pensavam que Mercúrio, o planeta, não era apenas um, mas dois corpos celestes. Davam o nome de Apolo quando o astro surgia ao pôr do sol e de Hermes ao amanhecer. Este mesmo equívoco aconteceu com os hindus e os egípcios.
Os romanos deram-lhe o nome do seu deus Mercúrio que permaneceu até o presente.
A partir do Sol, Mercúrio é o primeiro planeta e o menor do sistema solar. Com um diâmetro de aproximadamente 4.800 km, é consideravelmente pequeno a ponto de ser menor que Titã e Ganimedes, as luas de Saturno e Júpiter, respectivamente.
O núcleo de Mercúrio é desproporcionalmente grande. De sua massa total de 4.800km de diâmetro, cerca de 70% ou 3.600km formam o gigantesco núcleo composto principalmente de ferro e níquel, conferindo-lhe o título de planeta solar com a maior reserva de ferro.
A sua velocidade espacial varia de 39km a 57km por segundo conforme a sua posição na elipse orbital, ou seja, quanto mais próximo do Sol, a velocidade aumenta, diminuindo à medida de seu afastamento do astro brilhante, assim confirmando a segunda lei de Kepler. Essa variação de distâncias faz com que Mercúrio atinja o seu periélio a 46 milhões de quilômetros do Sol e, no afélio, chegue a se afastar até 70 milhões de quilômetros.
Mesmo tendo uma elipsidade acentuada, uma volta completa de Mercúrio em torno do Sol equivale a apenas 88 dias em nosso planeta, por este motivo o astro que recebe o nome do deus da velocidade, em algum momento pode estar entre a Terra e o Sol e 44 dias depois escondido do lado oposto de nossa estrela; em contrapartida a sua rotação demora longos 59 dias terrestres. Por ter uma rotação tão lenta, sua temperatura atmosférica pode atingir os tórridos 430 graus Celsius e desabar para os congelantes -170 graus Celsius, o que o torna o planeta com a maior variação de temperatura de nosso sistema.
A sua débil atmosfera é composta basicamente por vestígios de hélio e quantidades ainda menores de oxigênio, potássio, hidrogênio e sódio, pois a fraca atração gravitacional não é capaz de reter os elementos em maiores volumes. Pelo mesmo motivo a fraca atmosfera não consegue desempenhar a função de escudo protetor, permitindo que a superfície do planeta seja bombardeada por bólidos siderais desde o seu nascimento. Isto se confirmou com imagens feitas pela sonda norte americana Mariner 10 entre 1974 e 1975, mostrando que é impossível não notar a semelhança da superfície de Mercúrio com a da nossa Lua devido ao enorme número de crateras de impacto espalhadas em todas as direções.
Recentemente foram encontradas mais evidências da presença de água congelada nos pólos de Mercúrio, pois pelo fato da inclinação do planeta ser quase inexistente, seus pólos permanecem sem receber a luz solar, mergulhados em uma escuridão eterna.
Uma curiosidade a respeito de Mercúrio é que, por causa de sua órbita incomum, os astrônomos suspeitaram que havia outro planeta ainda mais próximo do Sol, a ponto de receber o nome de Vulcano, outro deus do panteão da mitologia romana, mas tal planeta nunca foi localizado e a explicação da anomalia veio mais tarde através da Teoria Geral da Relatividade de Albert Einstein.
AUTOR: Ricardo Costac