A lenda de Teseu e do Minotauro se confunde com a história da formação do povo grego no Período chamado Pré-Homérico, no qual ocorreram as invasões arianas, e talvez seja mais que coincidência: uma forma metafórica de relatar os acontecimentos daquela época.
A ilha de Creta era muito avançada em vários sentidos, nas artes, arquitetura, e possuía até mesmo uma forma de escrita, eles eram os senhores do mar Egeu, comercializando com África e Ásia, e há quem diga que fundaram muitas colônias, entre elas Tróia, Tirinto e Micenas, mas esta é uma informação controversa.
Por volta de 1700 a.C. a cidade de Micenas mantinha contato e intenso intercâmbio com a ilha de Creta, do que se originou a cultura creto-micênica, e como a cultura cretense era muito avançada em comparação a dos povos gregos, com eles os gregos aprenderam muito, desenvolvendo assim novas técnicas agrícolas e navais.
Esse desenvolvimento chegou a tal ponto que eles superaram os cretenses e por volta de 1400 a.C. conquistaram Cnossos, capital da ilha, destruindo parte da sociedade cretense.
Agora vamos rever a lenda de Teseu e o minotauro:
“Segundo a lenda, os gregos de Atenas haviam matado um dos filhos do rei cretense. Para se vingarem dos atenienses, os cretenses declararam guerra à Atenas e venceram. Exigiram dos vencidos que todos os anos mandassem sete moças e sete rapazes para acalmar a fome do Minotauro.
Dizia-se que desse labirinto ninguém conseguia sair, pois era impossível achar a saída. Mas um rapaz grego, de nome Teseu, resolveu enfrentar o monstro do labirinto. Foi secretamente ajudado pela jovem Ariadne, filha do rei Minos, que lhe deu um novelo de linha para que ele fosse desenrolando no labirinto e, assim, conseguisse achar o caminho de volta.
Teseu lutou bravamente com o touro, conseguiu matá-lo e sair do labirinto, depois voltou para casa levando Ariadne consigo.”
Agora, historicamente, o que poderia ser esse tributo cobrado pelos cretenses? Considerando a versão de que Micenas era uma colônia de Creta fica óbvio que sua produção se destinava à metrópole, e conforme eles avançavam e novos povos (jônios e eólios, por exemplo) se juntavam a eles, crescia um sentimento de independência, e isso teria desencadeado a guerra.
Mas como já dito esta é uma informação controversa, podemos levantar várias hipóteses, como pagamentos de dívidas de comércio, tributos pagos em troca de ensino de técnicas navais e agrícolas, ou simplesmente pressão militar de uma nação mais desenvolvida sobre uma mais fraca; o fato é que a invasão ocorreu, e essa invasão pode ser representada pela chegada de Teseu na ilha.
Quanto ao labirinto, possivelmente a lenda originou-se da complexa distribuição do Palácio de Cnossos, e o Minotauro, que como toda a lenda, foi de origem grega, pode ter se originado do gosto dos cretenses pelos touros e por competições incluindo esses animais, como mostra a figura abaixo, encontrada nas ruínas do palácio de Cnossos.
Essa visão do minotauro se fundiu com outras lendas, como a de Io e de sua neta Europa, raptada por Zeus em forma de touro; Europa era a avó do próprio Minotauro, ai ocorre a interligação dessas lendas. Já o touro cretense era possivelmente um deus mas certamente um animal sacrifical.
Como já foi dito os cretenses possibilitaram aos gregos o poder náutico e militar necessário para a própria invasão da ilha, e isto pode ser visto como Ariadne dando a linha a Teseu, possibilitando sua vitória sobre o minotauro e o fim do tributo cobrado por Minos; aliás, Minos é um título dado a todo rei de Creta, significando possivelmente homem da Lua (pois ele se unia como rei sacerdote à sacerdotisa da lua que representava a Grande deusa cretense), e somente foi associado aos touros e ao minotauro posteriormente, pelos gregos.
Finalmente chegamos a ida de volta a casa de Teseu levando Ariadne, nesse caso Ariadne representa a própria cultura cretense que sobreviveu à destruição e foi absorvida pelos gregos, e ajudou a criar a identidade desse povo que ainda passaria pelas invasões dóricas, a formação e transformação dos genos e finalmente chegaria ao desenvolvimento das pólis.
Bibiografia:
Leeming, David : Do Olimpo a Camelot
Bulfinch, Thomas : O Livro de Ouro da Mitologia
Imagem em Iosso, M. : Art and History of Crete, pg. 75