O Nome Secreto de Rá

Traduzido por Bruno Dahia

Rá, o poderoso deus que veio a existência por si mesmo, o que fez o céu, a terra, a água, o que criou a vida, o fogo, os homens e deuses possuía tantos nomes que nem mesmo os deuses conheciam.

Ísis, a grande Maga, era uma mulher de palavra hábil, mais hábil que os corações de um milhão de homens. Se sobressaía sobre milhões de deuses, e era mais astutas de que muito deles. Conhecia, como Rá, o senhor supremo, tudo o que se podia saber sobre o céu e a Terra. A deusa tramou em seu coração averiguar o nome secreto de Rá, o qual lhe dava o poder sobre o resto dos homens e dos deuses.

A cada dia, Rá surgia, sobre sua barca, do lado oriental do horizonte para realizar sua travessia pelos céus e atravessar o lado ocidental, ao entardecer, realizando sua viagem noturna pelas regiões de Duat, a qual ele iluminava com sua luz. No entanto eram muitas as viagens que o deus havia realizado e a cada dia ele envelhecia um pouco mais. Quando atravessava as terras do Egito sua cabeça se balançava, sua mandíbula tremulava e da sua boca caía a saliva que regava a terra.

Um dia Ísis recolheu a saliva com sua mão, misturando-a com a terra modelou uma serpente que deu origem a primeira cobra. Não necessitou empregar sua magia para levar a cabo essa criação, porque na criatura se encontrava a própria substância divina de Rá. Ísis tomou a serpente inerte e a situou no caminho em que seu pai efetuava a transição diária do Oriente e do Ocidente, de acordo com o desejo de sua alma.

Depois de que o grande deus fez firme seu coração, disse àqueles que o seguiam: Venham a mim, oh, vocês, que vieram a existência do meu corpo. Vocês, deuses que surgiram de mim. Que então saibam o que me aconteceu. Uma criatura mortal me feriu. Meu coração o pressenti, mas não sei do que se trata, porque meus olhos não puderam vê-la, nem minhas mãos puderam tocá-la. É desconhecida entre tudo que eu criei. Nunca senti tal dor, não conheço nada tão mortal. Sou o Governador e filho de um Governante, o fluido produzido por um deus. Sou o Grande filho de um Grande. Foi meu pai que pensou meu nome. Tenho muitos nomes e uma variedade de manifestações, e meu Ser está em cada um dos deuses que existem. Sou proclamado como Atum e como Hórus. Meu pai e minha mãe pronunciaram meu nome, que estava oculto em meu corpo antes mesmo do meu nascimento, de modo que ninguém pode ter poder sobre mim mediante suas palavras. Quando saí para ver minha obra e avançava pelas Duas Terras, algo me mordeu, mas não sei o que foi. Não é o fogo, nem a água, no entanto sinto o fogo em meu coração, meus membros tremulam e estremecem. Venham, filhos meus, deuses, venham a mim, aqueles que conhecem a glória das palavras e quem conheça sua mágica pronunciarão, os de poderosa influencia que alcança o céu.

Todos acudiram ao chamado de Rá, e também o fez Ísis, a Grande Maga, com seu glorioso poder e eficaz palavra. Ísis disse: Que é isso? O que foi que lhe sucedeu? Pai Divino, foi, talvez uma serpente que lhe transmitiu essa dor? Uma de suas criações pôs seu coração contra o seu? Se assim é eu expulsarei a dor que te aflige e destruirei com meus feitiços.

Rá abriu sua boca para contestar: “Quando viajava pelo largo caminho, quando atravessava as Duas Terras, e os países estrangeiros, desejoso que meu coração percebe-se minha obra, uma serpente a qual não podia ver me mordeu. Não é fogo, não é água. Sinto o frio em meu corpo como a água, sinto o calor do fogo, todos meus membros tremem e o suor corre pelo meu corpo. Me estremeço, meus olhos se encontram inseguros e não posso distinguir o céu. A umidade me alcança no rosto como nos quentes dias de verão.”

Ísis novamente falou e agora sua voz era cálida e reconfortante: “Venha, diga Senhor, vosso nome, oh divino pai, vosso verdadeiro nome, o nome secreto que só você conhece, porque somente viverá aquele que é chamado por seu verdadeiro nome”.

E Rá contestou com todos os nomes que possuía: “Sou o criador do Céu e da Terra, fui quem criou as montanhas e criou tudo que existe. Sou o que deu origem as Águas, fiz com que a Grande Inundação viesse a existência. Sou quem trabalhou o céu e as cavidades ocultas dos Dois Horizontes, dentro dos quais situei as almas dos deuses. Sou aquele que quando abre os olhos origina a luz e quando os fecha provoca a escuridão. Sou o aquele que criou as horas e assim os dias vieram a existência. Sou o que abre os festivais do ano, o criador do fluxo corrente das águas. Sou quem deu origem ao fogo para que os trabalhos o homem pudessem levar a cabo. Sou Jepri pela manhã, Rá ao meio dia e Atum pela tarde”.

Mas Ísis já conhecia todos esses nomes, igual ao resto doa humanidade, no entanto Rá seguia guardando dentro de si seu nome secreto. Enquanto, a dor crescia e o veneno corria através de suas veias como o fogo. Então Ísis se dirigiu novamente a Rá dizendo-lhe: “Não são esses os nomes que necessito para que seja curado, é necessário que me diga seu nome secreto, aquele que só você conhece, e o veneno será expulsado. Só viverá aquele que manifesta seu verdadeiro nome”.

Rá estremecido pela dor que lhe queimava com ferocidade, mas poderoso que as chamas do fogo, disse: Aproxime-se Ísis, venha aqui e deixe que meu nome passe do meu corpo para o teu. Eu, o mais divino entre os deuses, o mantive oculto para que meu assento na Barca Divina, de milhões de anos, pudesse ser extenso. Quando saí de meu coração, diga-o ao seu filho Hórus. Depois que haja jurado pela vida do deus”. Depois disso o grande deus revelou seu nome a deusa.

Então Ísis, a grandiosa dos feitiços, disse: “Vá embora veneno! Sai fora de Rá. Oh olho de Hórus, sai fora do Deus que deu origem a vida por meio de suas palavras. Sou eu quem realiza esse feitiço, sou eu quem envia pra fora o poderoso veneno. O grande Deus me entregou se nome. Rá viverá e o veneno morrerá.” Assim foi como disse Ísis, a Grande, senhora dos Deuses, que conhece Rá pelo próprio nome.

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